O ano de Ruben Guerreiro no Tour com "top-10" no horizonte
01-07-2022 - 08:37
 • Carlos Dias , Sílvio Vieira

Arranca esta sexta-feira, em Copenhaga, na Dinamarca, a 109.ª edição da Volta a França em bicicleta. Olivier Bonamici elege Pogacar como grande favorito à celebração nos Campos Elíseos, no dia 24, mas elege a Jumbo-Visma como a melhor equipa, com dois candidatos: Roglic e Jonas Vingegaard. Ruben Guerreiro e Nelson Oliveira são os dois portugueses em prova.

Começa esta sexta-feira termina no dia 24 de julho. É a maior e a melhor prova de ciclismo do mundo, um dos maiores eventos desportivos do planeta. Preenche o imaginário de qualquer jovem aspirante a ciclista. A Volta a França vai para a estrada em Copenhaga, na Dinamarca, e termina, como é tradição, nos Campos Elíseos, em Paris.

Há dois portugueses em prova e um, avalia Oliver Bonamici, tem capacidade para fechar entre os melhores.

"Tendo em conta que ele tem uma bela equipa, não é de descartar um 'top-10' para o Ruben Guerreiro, o que seria extraordinário. Ou, quem sabe, ganhar a 14 de julho, uma etapa mítica, a etapa do Alpe d'Huez", diz o comentador luso-francês, que vai acompanhar todos os quilómetros do Tour no Eurosport.

A vitória no Mont Ventoux Challenge, há menos de um mês, é um indicador de que o ciclista da EF Education-Easypost pode lutar com os grandes trepadores.

"Nunca houve tanta expetativa em relação ao Ruben Guerreiro numa grande volta. Quando ele surge em 2020, ganha uma etapa e a camisola da montanha na Volta a Itália, foi uma surpresa. Agora há uma expetativa, porque é um ciclista que tem terminado grandes voltas no "top-20. Mas ele este ano está numa outra dimensão. Ele próprio reconhece que está num grande momento de forma. Ganhar no Mont Ventoux é uma informação, porque é uma prova para trepadores puros e ele é um trepador puro", observa Olivier, em declarações à Renascença.

Além da vitória no Mont Ventoux Challenge, Ruben Guerreiro, 18.º classificado no Tour 2021, tem outros resultados de relevo esta temporada. Fez "top10" no Dauphiné, ao terminar na nona posição, fechou "top-20 na Volta ao País Basco e terminou a Flèche Wallonne no sétimo lugar. Na sua equipa divide protagonismo com o colombiano Rigoberto Uran, que também é aposta para a geral e para as etapas de montanha.

O outro português à partida em Copenhaga é Nelson Oliveira, da Movistar. Aos 33 anos, vai participar, pela sexta vez, na Volta a França, e sua função será "ajudar o líder da equipa, o espanhol Enric Mas".

"O Nelson Oliveira é muito experiente, super útil para a sua equipa. É um ciclista que está na sombra, mas super útil. O Nelson raramente passa ao lado de uma grande prova como esta, mas não estará para lutar pela geral", anota Olivier Bonamici.

Especialista em contrarrelógio, Nelson Oliveira terá duas oportunidades para se mostrar a esse nível, logo a abrir nos 13,2 km da 1.ª etapa, em Copenhaga, e que se a fechar, no penúltimo dia do Tour, nos 40,7 km, entre Lacapelle-Marival e Rocamadour.

"Luta entre dois eslovenos, com um 'joker' dinamarquês"

Numa previsão sobre a luta pela vitória final, não há reservas, Tadej Pogacar "é o grandíssimo favorito a ganhar, pela terceira vez consecutiva". Olivier Bonamici descreve o esloveno, de 23 anos, como "um dos maiores prodígios da história do ciclismo", "o melhor ciclista do mundo".

No entanto, o especialista em ciclismo cria algum suspense, ao introduzir a luta de Pogacar, o melhor individualmente, contra a aquela que considera ser a melhor equipa, a Jumbo-Visma, de Roglic e Vingegaard.

"Pogacar tem uma bela equipa [UAE Emirates], mas não é a melhor equipa. Na minha opinião, a melhor equipa é a Jumbo-Visma, que tem não um, mas dois trunfos: Roglic e o Vingegaard, que fez segundo lugar no ano passado. Teremos o melhor ciclista do mundo, Pogacar, frente àquela que é talvez a melhor equipa do mundo, a Jumbo-Visma, a equipa mais completa, com dois ciclistas que também podem ganhar o Tour", observa.

"Prevejo uma luta extraordinária entre os dois eslovenos, com o "joker" dinamarquês", acrescenta. Pogacar, vencedor das duas últimas edições do Tour, venceu as três provas por etapas em que participou em 2022: Tirreno-Adriático, UAE Tour e Volta à Eslovénia. Venceu ainda a clássica Strade Bianche, em Itália.

Primoz Roglic, que desistiu em 2021 e foi segundo no Tour 2020, ganhou duas das três provas por etapas em que participou em 2022: Paris-Nice e Critérium du Dauphiné. Jonas Vingegaard, segundo classificado em 2021, este ano foi segundo na Tirreno-Adriático, atrás de Pogacar, e segundo no Dauphiné, atrás de Roglic. Venceu a Drôme Classic, em França.

A sombra da Covid-19

Se para a estrada há uma elevada expetativa em redor do Tour, nos bastidores paira uma nuvem de dúvida. Em causa, explica Olivier Bonamici, as novas regras em relação a corredores infetados com Covid-19.

Se na edição do ano passado, por exemplo, um ciclista testasse positivo era forçado a retirar-se da prova, este ano se testar positivo, mas estiver assintomático, pode continuar no pelotão.

"Na Volta à Suíça [que decorreu entre 12 e 19 de junho] houve vários ciclistas que foram excluídos por testarem positivo. As regras mudaram e um ciclista que teste positivo não será automaticamente excluído. Vamos imaginar um ciclista positivo. Não tem sintomas e pode ficar na prova. Mas os outros ciclistas vão correr com ele? Acho que vai ser uma prova marcada por muitas polémicas à volta da Covid", prevê.

A 109.ª edição da Volta a França em biciclista começa esta sexta-feira, dia 1 de julho, com um contrarrelógio individual de 13,2 km em Copenhaga. O pelotão passeia mais dois dias pelas estradas dinamarquesas e "atraca" em Dunquerque, no Norte de França, a 5 de julho, de onde sai para Calais. No dia seguinte, há "inferno" para percorrer nos setores de empedrado, entre Lille e Arenberg.

É já depois de uma incursão pela Suíça que os ciclistas vão sentir o primeiro ar de montanha a sério, na 9.ª etapa. Segue-se dia de descanso, a 11 de julho, antes de o palco abrir para os trepadores. Há Galibier, Télégraphe, Serre Chevalier e Alpe d'Huez para subir.

Com os Alpes para trás e já depois do último dia de descanso, agendado 18 de julho, o pelotão segue para os Pirinéus. Col d'Aspin, Val Louron-Azet, Peyragudes, Aubisque estão entre os obstáculos até ao Hautacam, onde os corredores chegam a 18 de julho. O último teste do percurso, na penúltima etapa, é o contrarrelógio, entre Lacapelle-Marival e Rocamadour (40,7 km).

A 24 de julho há brinde marcado para o vencedor, nos 116 km finais de uma "Grande Boucle" que deverá terminar, como é tradição, com um vigoroso "sprint" nos Campos Elíseos, em Paris.