Poupar? Não, consumir
25-07-2020 - 07:53

Os portugueses, que estavam a poupar muito pouco, aumentaram as suas poupanças por causa das incertezas trazidas pela pandemia. Mas a economia precisa de mais consumo, um problema que só a recuperação do turismo poderá resolver.

A poupança das famílias residentes em Portugal é um útil indicador social e económico. Antes de 1974, ou seja, antes de a democracia ter criado no país um Estado social, ainda que débil, muitas famílias poupavam como um imperativo para evitar caírem na miséria após deixarem de trabalhar. Incluindo famílias de baixos rendimentos.

Depois surgiram vários apoios sociais e muitos portugueses empenharam-se menos em poupar – criou-se a ideia que o Estado lá estaria para pagar a reforma ou as despesas de uma doença. Assim, em 2018 as famílias poupavam, em Portugal e em média, 6,5% do seu rendimento disponível. Vinte anos antes essa proporção era de 14%.

Nas vésperas da pandemia a poupança entre nós estava em níveis historicamente muito baixos. Mas o coronavírus pregou-nos um susto e a poupança das famílias voltou a subir. Perante as incertezas que a pandemia trouxe, o reforço das poupanças das famílias é uma decisão racional.

Só que mais poupança significa menos consumo – e, nesta altura, a economia portuguesa precisa desesperadamente de mais consumo para salvar da falência inúmeras empresas, sobretudo as de pequena dimensão.

Entre 2009 e 2019, o consumo privado cresceu muito em Portugal, passou de 110 mil milhões de euros para 132 mil milhões. O que contribuiu para uma subida das importações, ameaçando o equilíbrio das nossas contas externas.

Valia o turismo, que não só trazia receitas externas, como era um importante consumidor do comércio nacional. A pandemia reduziu praticamente a zero esse duplo contributo do turismo estrangeiro.

A decisão de vários países europeus de não considerarem Portugal um país seguro quanto à pandemia representou um prejuízo brutal, e em muitos casos injusto, para a nossa economia. Daí a frustração perante a manutenção da posição britânica nesta matéria, na semana passada. O Reino Unido foi, em 2019, o principal emissor de turistas para Portugal. No Algarve, os britânicos representaram mais de 37% das dormidas de não residentes.

É mais um adiamento da nossa recuperação económica.