Há longos meses que os preços dos bens alimentares estão muito acima do nível geral da inflação. Em fevereiro, a inflação abrandou pelo quarto mês consecutivo em Portugal, para 8,2%, mas a subida dos preços dos bens alimentares ultrapassou os 20%.
Na semana passada o ministro da Economia prometeu que iria ser inflexível com situações anómalas, ou seja, com subidas de preços de alimentos que apontem para margens de lucro exageradas. Só que, entretanto, essa inflexibilidade não se traduziu em medidas concretas.
Parece que a passividade resulta de o Governo não saber o que fazer, porque não tem informação suficiente. Em maio do ano passado foi criado, no papel, um observatório de preços, para analisar o processo da formação dos preços dos alimentos, do produtor ao consumidor. Em outubro este observatório foi formalizado. Mas o organismo ainda não funciona. Assim, nos próximos meses não deverão surgir medidas governamentais contra as tais situações anómalas, porque não existem meios para as identificar com seriedade.
Perante a falta de dados concretos sobre a formação dos preços alimentares temos assistido a acusações mútuas dos intervenientes no ciclo de produção dos bens. Não é um bonito espetáculo e, sobretudo, deixa os consumidores sem saberem quem devem culpar.
Para já podem culpar o Governo, que se atrasou irresponsavelmente na entrada em funcionamento de uma entidade capaz de apurar quem abusa na subida dos preços. É o que faz uma maioria absoluta.