"Profundo choque". Amnistia Internacional repudia agressões da GNR a imigrantes em Odemira
16-12-2021 - 23:00
 • João Malheiro

Diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal espera "que se faça Justiça". Pedro Neto considera que estes episódios mostram que "talvez seja necessário as bodycams, as câmaras de vigilância nos carros das forças de autoridade e nas esquadras e nos postos da GNR". E alerta para a criação de um ambiente de discurso de ódio, em Portugal.

O diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal diz, à Renascença, estar "em profundo choque" com o caso de agressões alegadamente cometido por sete militares da GNR a imigrantes, em Odemira, denunciado esta quinta-feira pela CNN Portugal e pela TVI.

Os militares estão acusados de um total de 33 crimes, por humilharem e torturarem imigrantes.

Num despacho de acusação de 10 de novembro e ao qual a CNN Portugal e TVI tiveram acesso, o Ministério Público refere que os militares cometiam os atos de tortura "em manifesto uso excessivo de poder de autoridade" e que "todos os arguidos agiram com satisfação e desprezo pelos indivíduos".

Pedro Neto classifica o caso como um "episódio gravíssimo de abuso das forças de autoridade, que não honram o uniforme que vestem e o trabalho que desenvolvem".

"Tudo nos leva a querer que haverá uma acusação e que se fará Justiça neste caso", diz, à Renascença.

O diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal questiona "como é que a formação e o recrutamento não tem a profundidade para evitar este tipo de atuações?".

"O que é que está a falhar neste processo que ainda leva a que isto aconteça?", acrescenta.

Pedro Neto refere que, em 2019, houve a identificação de 950 processos de abuso do uso da força e "destes, muito poucos, não chegam a duas dezenas, chegaram a ser investigados".

"Isto pode levar a que pessoas como estes militares possam fazer o que quiserem e se sintam todos poderosos, porque aquilo que fazem não tem consequência. Sentem-se impunes", critica.

"Algo está a falhar na responsabilização dos maus agentes, porque depois a esmagadora maioria dos bons militares vê o seu nome e uniforme manchados".

O diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal considera que estes episódios mostram que "talvez seja necessário as bodycams, as câmaras de vigilância nos carros das forças de autoridade e nas esquadras e nos postos da GNR".

"Assim, mais facilmente podemos responsabilizar rapidamente, quem se comporta incorretamente", defende.

Pedro Neto alerta ainda para o aumento "do discurso de ódio no contexto político e o silêncio de outros políticos que nada dizem sobre isso".

"Constrói-se um ambiente de discriminação a pessoas vulneráveis, como, por exemplo, cidadãos da etnia cigana, de ascendência africana e sempre pobres. São sempre pessoas pobres e desprotegidas", avisa.