Vacina contra a malária à vista. Anunciada eficácia de 77% nos ensaios clínicos
23-04-2021 - 15:56
 • Hélio Carvalho , com agências

Depois de anos de testes, a Universidade de Oxford pode estar perto de conseguir uma vacina contra uma das doenças mais mortíferas do mundo, especialmente em crianças africanas. Em África, morreram mais pessoas de malária do que de covid-19 em 2020.

A malária é um dos piores fardos de África, especialmente nas crianças. Apesar de tratável, a doença é uma das mais mortíferas do mundo e especialmente da região de África Subsariana, onde mata cerca de 400 mil pessoas por ano, a maioria crianças.

Só em 2019, foram contabilizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) cerca de 229 milhões de casos de malária.

No entanto, depois de vários anos em ensaios clínicos e várias vacinas que foram sendo desenvolvidas sem um balanço positivo, a Universidade de Oxford conseguiu desenvolver uma vacina que demonstrou uma eficácia de 77% contra a malária nos primeiros ensaios clínicos.

Se a vacina tiver sucesso e for aprovada, poderá tornar-se numa importante ferramenta de saúde pública no continente africano. Em 2020, morreram em África mais pessoas de malária do que com covid-19.

Segundo a BBC, a Universidade de Oxford fez testes clínicos em 450 crianças na Burkina Faso. Passados 12 meses, a vacina foi considerada segura e revelou uma "eficácia de alto nível".

O passo seguinte são os testes clínicos em larga escala, que envolverão cinco mil crianças entre os cinco meses de idade e os três anos, em quatro países africanos diferentes.

A malária é transmitida através da picada de mosquitos. A doença começa com uma simples febre, dores de cabeça e arrepios, mas se não for tratada, pode levar a doença grave e, eventualmente, à morte.

Segundo o autor do estudo, Adrian Hill, a vacina é a primeira a conseguir chegar ao objetivo da OMS de desenvolver uma vacina com uma eficácia de, pelo menos, 75%. Antes, os tratamentos com maior sucesso tinham chegado apenas a 55% de eficácia em crianças africanas.

O desenvolvimento da vacina foi um processo demorado - os ensaios clínicos começaram em 2019 - mas pelo meio meteu-se o desenvolvimento da vacina contra a covid-19 (que a Universidade de Oxford desenvolveu com a AstraZeneca) e foi necessário ter em conta os milhares de genes e variantes da malária (enquanto que na covid-19 existem apenas cerca de uma dúzia).

Na revista médica The Lancet, foi publicado um estudo com os resultados até agora. A vacina R21/Matrix-M foi testada entre maio e agosto, durante o pico da época da malária.

À BBC, Adrian Hill, que é diretor do Instituto Jenner e professor de vacinologia na universidade britânica, admitiu que esta vacina "foi um verdadeiro desafio técnico" e que "a maioria das vacinas não funcionou porque é muito difícil" atingir a imunidade necessária para combater a doença.

Além da Universidade de Oxford, participaram nos ensaios a Unidade de Investigação Clínica Nanoro, da Burkina Faso, e entidades de saúde americanas.

Halidou Tinto, professor na unidade da Burkina Faso, disse à BBC que os resultados são "muito entusiasmantes". "Estamos ansiosos para a próxima fase de ensaios para demonstrar a segurança em larga-escala e a eficácia dos dados de uma vacina que é muito necessária na região".

Outro participante no estudo é o Instituto Serum, da Índia, que já garantiu que teria disponibilidade para produzir 200 milhões de doses da vacina assim que for aprovada.