Portugal e Angola
20-03-2018 - 06:23

A desdramatização que tem sido feita pelas autoridades portuguesas quanto à crise nas relações com Luanda começa a tornar-se ridícula.

Na semana passada, Angola adiou uma cimeira empresarial luso-angolana, prevista para o próximo dia 27. Nesse dia, Luanda vai receber o primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy. Não por acaso, certamente.

Ninguém duvida de que este novo gesto pouco amistoso de Angola com Portugal tem a ver com a pretensão angolana de que a justiça portuguesa envie para a justiça angolana o processo que envolve o antigo vice-Presidente de Angola Manuel Vicente, num alegado caso de corrupção.

A estratégia das autoridades portuguesas face a este o problema com Angola, país pouco habituado a separar o poder judicial do poder político, tem sido desdramatizar. As relações de Portugal com Angola são excelentes, disse recentemente o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

E o Presidente da República, especialista em desdramatizações, afirmou que o adiamento “sine die” da referida cimeira empresarial se fica a dever a um mero problema de agenda. Note-se que não foi marcada nova data para a cimeira.

Aliás, logo no discurso de tomada de posse do novo Presidente de Angola foi notória a ausência de uma referência a Portugal entre os países com os quais Luanda se empenharia em cooperar. Os políticos portugueses fizeram de conta que não se passara nada.

Compreende-se que as autoridades portuguesas não queiram agravar a presente má relação política com Angola. Mas o excesso de desdramatização começa a tornar-se ridículo. E contraproducente, na medida em que sugere uma atitude de fraqueza e receio da parte portuguesa.