Há lodo no cais
28-11-2018 - 06:43

É chocante que haja numerosos estivadores a trabalhar “ao dia”, sem qualquer contrato coletivo, muitos há mais de vinte anos.

O realizador americano Elia Kazan dirigiu, em 1954, um filme controverso, mas que ficou célebre, tendo ganho nada menos de oito “Óscares”. Em Portugal, o título do filme foi “Há lodo no cais”, pois abordava a infiltração de gangsters nos sindicatos de estivadores nos EUA.

Não estou a sugerir que o mesmo se passe nos portos portugueses. Mas é chocante que, em Setúbal e noutros portos, haja numerosos estivadores a trabalhar “ao dia”, sem qualquer contrato coletivo, muitos há mais de vinte anos. Foi esta situação que não tornou ilegal o recurso a trabalhadores de fora, recurso proibido em greves normais.

Há quem se interrogue sobre a passividade da Autoridade para as Condições Trabalho. E sobre o real papel dos sindicatos que atuam nos portos portugueses. Não parecem muito empenhados em acabar com a precariedade do trabalho portuário. E não é clara a sua influência quanto a decidir quem trabalha e quem fica de fora no dia a dia.

Decerto que o trabalho na estiva tem condições específicas, como têm muitas outras atividades laborais. Mas não menos chocante é o facto de sucessivos governos, incluindo o atual, terem sistematicamente “olhado para o lado”, ignorando a estranha maneira de contratar estivadores. Oxalá a ministra do Mar dê, finalmente, um abanão a esta situação insólita.