Fadiga pandémica
26-02-2021 - 06:17

Todos temos muito que aprender quanto a informação em fase de crise grave. Não se constituiu “uma comissão interdisciplinar e independente, que pudesse falar com a autoridade e a humildade próprias da ciência, que pudesse ter um porta-voz junto do Governo como junto da população”, afirma o prof. Carlos Fiolhais.

Temos ouvido centenas de opiniões sobre o curso da pandemia. Mas faltam porta-vozes credíveis, do lado dos governantes como do lado dos cientistas, o que baralha quem percebe pouco do assunto, como é o meu caso. E contribui para aumentar aquilo a que se chama “fadiga pandémica”, que já se refletiu em mais gente na rua do que há semanas.

Daí que faça todo o sentido salientar a posição, várias vezes reiterada, do professor de Física na Universidade de Coimbra Carlos Fiolhais, que reclama a criação de um conselho científico interdisciplinar e orientado para encontrar uma estratégia adequada para combater a pandemia.

"Não devemos fazer política sem ouvir a ciência e a relação entre ciência e política em Portugal está longe de ser a mais perfeita", disse Carlos Fiolhais à Renascença.

Essa relação imperfeita, acrescento da minha parte, leva inclusivamente a suposições de que o primeiro-ministro pretenda lançar as culpas de eventuais falhanços no combate à pandemia sobre os cientistas, desculpabilizando o Governo. Isto, porque António Costa já se queixou de que os cientistas não se entendem.

Entre nós não se constituiu “uma comissão interdisciplinar e independente que pudesse falar com a autoridade e a humildade próprias da ciência, que pudesse ter um porta-voz junto do Governo como junto da população”, escreveu C. Fiolhais no “Público”. Em declarações à Renascença, Carlos Fiolhais classificou os encontros do Infarmed como “reuniões de expediente, em quehá uma espécie de faz de conta que se ouve a ciência”.

Também a comunicação social nem sempre tem conseguido esclarecer os portugueses. Várias vezes tem contribuído para acentuar a fadiga pandémica. Telejornais de hora e meia, em que quase não se fala noutra coisa que não seja a pandemia e onde não se veem imagens que não sejam hospitalares ou de injeções, não é comunicação sensata nem ajuda a diminuir a fadiga pandémica.

Todos temos muito que aprender em matéria de informação em fase de crise grave.