Descoberto novo dinossauro na Península Ibérica
04-09-2024 - 10:29
 • Olímpia Mairos , com Lusa

Chama-se Qunkasaura pintiquiniestra e permite explicar aspetos até então desconhecidos da história dos últimos dinossauros gigantes da Europa. Uma parte do esqueleto do dinossauro está exposta no Museu de Paleontologia de Castilla-La Mancha, em Cuenca.

Um estudo liderado pelo paleontólogo Pedro Mocho identificou uma nova espécie de dinossauro saurópode que viveu em Cuenca, Espanha, há 75 milhões de anos, anunciou esta quarta-feira a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL).

A espécie foi batizada com o nome "Qunkasaura pintiquiniestra" e o trabalho, publicado na revista científica Communication Biology, resulta da análise de um dos fósseis, entre milhares, recolhidos durante as obras da linha ferroviária de alta velocidade Madrid-Levante e que hoje formam "uma das coleções de vertebrados fósseis mais relevantes do Cretáceo Superior da Europa", proveniente da jazida de Lo Hueco, em Cuenca.

Segundo Pedro Mocho, paleontólogo do Instituto Dom Luiz da FCUL, a nova espécie identificada pertence a um grupo de dinossauros saurópodes que sugere que esta linhagem de médio-grande porte "chegou à Península Ibérica muito mais tarde do que outros grupos de dinossauros".

“O estudo deste exemplar permitiu-nos identificar pela primeira vez a presença de duas linhagens distintas de saltassauroides na mesma localidade fóssil. Um destes grupos, denominado Lirainosaurinae, é relativamente conhecido na região ibérica e caracteriza-se por espécies de pequeno e médio porte, que evoluíram num ecossistema insular. Ou seja, a Europa era um enorme arquipélago composto por várias ilhas durante o Cretáceo Superior. No entanto, Qunkasaura pertence a um outro grupo de saurópodes, representado na Península Ibérica por espécies de médio-grande porte há 73 milhões de anos. Isto sugere-nos que esta linhagem chegou à Península Ibérica muito mais tarde do que outros grupos de dinossauros”, explica o investigador.

Os dinossauros saurópodes, um dos grupos de dinossauros, caracterizavam-se pela sua grande corpulência e pescoço muito comprido que terminava numa cabeça pequena.

Em comunicado, a FCUL destaca que "Qunkasaura pintiquiniestra" é um dos fósseis de saurópode "mais completos encontrados na Europa", ao incluir vértebras cervicais, dorsais e caudais, parte da cintura pélvica e elementos dos membros.

"Uma das características mais relevantes do registo fóssil de Lo Hueco é a abundância de esqueletos parciais de dinossauros saurópodes de grande dimensão, que são raros no resto da Europa. Qunkasaura pintiquiniestra destaca-se por ser um dos esqueletos de saurópode mais completos encontrados na Europa, incluindo vértebras cervicais, dorsais e caudais, parte da cintura pélvica e elementos dos membros. A sua morfologia única, especialmente nas vértebras da cauda, oferece novas perspetivas sobre os dinossauros não-avianos da Península Ibérica, um grupo historicamente pouco compreendido", assinala a nota.

O nome "Qunkasaura pintiquiniestra" resulta de várias referências geográficas e culturais próximas da jazida de Lo Hueco: "Qunka" refere-se à etimologia mais antiga do topónimo da área de Cuenca e Fuentes, "Saura" corresponde ao feminino do latim "saurus" (lagarto) e homenageia o pintor espanhol Antonio Saura, que morreu em Cuenca em 1998, e "pintiquiniestra" alude à "Rainha Pintiquiniestra", personagem de um romance citado em "Dom Quixote de la Mancha", de Miguel Cervantes.

Uma parte do esqueleto do dinossauro está exposta no Museu de Paleontologia de Castilla-La Mancha, em Cuenca.