PSP impede vítima de violência doméstica de ter advogada presente ao apresentar queixa
02-10-2019 - 16:17
 • Marina Pimentel

PSP de Oeiras alega que advogada não se identificou profissionalmente. Jurista desmente e já avançou com queixas.

A Casa da Maria, na esquadra de Oeiras, foi criada com o intuito de ser um local de excelência no acompanhamento das vítimas de violência doméstica. E foi por isso que a advogada Ana Sofia Gomes escolheu o local para, no passado dia 17 de setembro, ir com a sua cliente apresentar queixa de violência doméstica contra o marido desta. Mas ao chegarem, a vítima foi impedida de se fazer acompanhar da advogada.

Confrontada pela Renascença, a PSP de Oeiras alega que a advogada se apresentou como amiga da vítima, recusando identificar-se profissionalmente. A jurista desmente essa versão dos acontecimentos e já fez uma participação à Ordem dos Advogados, estando agora a preparar-se para avançar com uma queixa ao Ministério Público.

"Em nenhum momento me apresentei como amiga da vítima", garante Ana Sofia Gomes à Renascença. Apesar de já ter defendido a mesma cliente num processo anterior, e de a partir daí terem desenvolvido alguma proximidade, a advogada diz que nunca iria apresentar-se "noutra qualidade que não a de advogada numa situação como é a participação de um crime".

Ana Sofia Gomes conta que, depois de uma hora na zona de espera, se dirigiu à sala de atendimento para tentar falar com a sua cliente. "Mais uma vez fui impedida de acompanhar a diligência pela agente da PSP", refere.

Num comunicado enviado à Renascença, a Polícia de Segurança Pública acusa a advogada de "ter forçado a entrada e recusado apresentar a carteira profissional, justificando que não a trazia consigo" – acusações que Ana Sofia Gomes desmente.

A advogada garante que foi um outro agente da esquadra que lhe abriu a porta da sala onde a sua cliente estava a ser ouvida e onde, assegura, tentou "mostrar a cédula profissional à agente que fez o atendimento". Aí, adianta, essa mesma agente "nem olhou" para ela. Mais: segundo a advogada, a agente ter-lhe-á dito que "não autorizava a acompanhar a recolha do depoimento da vítima porque eram essas as instruções superiores que tinha".

A PSP nega que exista qualquer orientação da direção da polícia no sentido de impedir os advogados de acompanharem as vítimas de violência doméstica e afirma que o facto de a vítima ter estado três horas na esquadra de Oeiras, sem que a queixa tenha sido formalizada, se deveu ao facto de ter sido necessário "acalmar a vítima, que se apresentava com sinais de grande descompensação e nervosismo".

Também este ponto é desmentido por Ana Sofia Gomes, que garante que a sua cliente estava calma.