Oropouche. Doença transmitida por insetos na América do Sul regista primeiros casos na Europa
14-08-2024 - 06:30
 • Marta Pedreira Mixão com Reuters/The Conversation

Além do aumento de casos significativo, outra preocupação é o facto de o vírus ter causado as primeiras duas mortes. As pessoas que testaram positivo para este vírus na Europa tinham regressado recentemente de férias em Cuba e no Brasil.

Autoridades de saúde europeias emitiram um aviso aos viajantes depois de terem sido confirmados, pela primeira vez na Europa, 19 casos do vírus Oropouche, transmitido por insetos Culicoides paraensis.

Um total de 12 casos foram detetados em Espanha, cinco em Itália e dois na Alemanha, entre junho e julho deste ano, revelou o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa).

As pessoas que testaram positivo para este vírus tinham regressado recentemente de férias em Cuba e no Brasil.

De acordo com o "The Conversation", atualmente, algumas regiões da América do Sul e de Cuba têm registado surtos deste vírus, com casos superiores ao normal.

Entre janeiro e meados de julho deste ano, registou-se um aumento acentuado das infeções, com mais de 8.000 casos confirmados.

Trata-se de um aumento considerável em relação aos 832 casos registados no ano passado. Mais de 7.000 destes casos registaram-se no Brasil, onde foram confirmadas as primeiras mortes causadas pelo vírus Oropouche.

Além do aumento de casos significativo, outra preocupação é o facto de o vírus ter causado duas mortes e que os surtos estejam a ser registados em áreas onde o vírus Oropouche não tinha sido detetado anteriormente.

Até ao momento ainda não se sabe porque motivo as infeções estão a ser tão elevadas este ano, mas suspeita-se que as alterações climáticas possam ser um dos fatores - devido às elevadas temperaturas e cheias que geram águas paradas -, bem como eventuais mutações, que podem também afetar a capacidade do vírus de infetar, causar doenças, propagar-se e escapar ao sistema imunitário.

Como se transmite?

O vírus Oropouche é transmitido aos seres humanos se forem picados por mosquitos infetados. Esta é a doença viral transmitida por mosquitos mais prevalente na América do Sul, depois do vírus da dengue.

Desde que o vírus foi descoberto, em 1955, o primeiro grande surto foi registado na década de 1960 em Belém, no Brasil, data em que se registaram 11.000 casos.

Desde então, têm-se registado vários surtos. Estima-se que mais de meio milhão de pessoas tenham sido infetadas pelo vírus Oropouche desde que foi detetado pela primeira vez.

Os surtos ocorreram principalmente em zonas tropicais da América do Sul, da América Central e das Caraíbas (embora principalmente na região amazónica do Brasil e do Peru).

O vírus do Oropouche é transmitido aos seres humanos principalmente através da picada de mosquitos, normalmente os que se encontram em zonas florestais e em torno de massas de água. A transmissão ocorre geralmente durante o dia, especialmente durante o nascer e o pôr do sol.

Quais são os sintomas?

Os sintomas da doença do vírus Oropouche são bastante semelhantes aos da gripe:

  • Febre;
  • Dor de cabeça;
  • Tonturas;
  • Arrepios;
  • Dores musculares;
  • Sensibilidade à luz.

Estes sintomas duram normalmente dois a cinco dias após a picada do inseto infetado e a maioria das pessoas recupera sem efeitos a longo prazo, mas os sintomas podem reaparecer se realizar atividades físicas cansativas demasiado cedo depois de ter estado doente.

Existe algum tratamento?

Até ao momento, não existem tratamentos antivirais específicos para a doença do vírus Oropouche. Contudo, os doentes podem tomar medicação para ajudar com o alívio da dor e manterem-se hidratados para gerir os sintomas.

Embora o vírus Oropouche não seja, em larga maioria dos casos, fatal, pode causar complicações graves, como encefalite e meningite. Recentemente, duas jovens brasileiras morreram na sequência da infeção do vírus, devido ao aparecimento súbito de sintomas que levaram a hemorragias.

O que fazer para prevenir a infeção?

Antes de mais, como não há vacina, a única forma de evitar a infeção é evitando ser picado e a melhor maneira de evitar as picadas é recorrendo ao repelente. Por isso, procurar produtos que tenham icaridina e dietiltoluamida (DEET).

Deverá aplicar uma camada fina e uniforme de repelente na pele exposta e reaplicar de acordo com a necessidade, especialmente depois de nadar ou se estiver muito suado. O repelente deve ser aplicado por cima do protetor solar.

Além do repelente, pode também usar roupas que cubram os braços e as pernas e cobrir as portas em casa para que os mosquitos não possam entrar. Ventoinhas também podem ajudar a afastar os insetos.

Deve também eliminar os restos de comida, folhas mortas e os reservatórios de água à volta da sua casa para reduzir os locais onde as fêmeas podem pôr os ovos.

Que impacto tem em grávidas?

O vírus Oropouche pode também estar ligado a vários abortos e malformações congénitas no Brasil.

Qual o nível de risco de propagação do vírus na UE?

A probabilidade de propagação do vírus Oropouche no Reino Unido e na Europa é considerada muito baixa, apesar de terem sido confirmados casos importados.

Isto deve-se ao facto de o vírus ser transmitido de inseto para humano - e até à data não foram comunicados casos de transmissão entre humanos.

Os viajantes que se deslocam a zonas onde os surtos ocorrem com frequência (como o Brasil) devem estar extremamente vigilantes e tomar precauções para evitar contrair o vírus.

A probabilidade de infeção dos cidadãos europeus que viajam ou residem em zonas epidémicas na América do Sul e Central é atualmente avaliada como "moderada", pelo ECDC.