Dia 34 de Guerra. Progressos nas negociações abrem janela a encontro entre Putin e Zelenskiy
29-03-2022 - 20:25
 • Marta Grosso

Nesta terça-feira, a Rússia anunciou uma redução radical da atividade militar em duas zonas ucranianas e a Ucrânia propôs o estatuto de neutralidade sob condições de segurança. Moscovo já avisou que não se trata de um cessar-fogo e os EUA parecem pouco confiantes na boa-fé russa. Mas os mercados gostaram dos sinais positivos.

Este dia 34 de guerra na Ucrânia fica marcado por progressos à mesa das negociações. A Rússia anunciou uma redução “radical” nas operações militares em Kiev e na cidade de Chernihiv, no Norte da Ucrânia e a Ucrânia propôs um estatuto de neutralidade com garantias internacionais de proteção em caso de ataque russo.

Esta é a primeira mudança significativa mais de um mês depois da invasão, em 24 de fevereiro. Mas existem muitas cautelas à mistura. O principal negociador russo já veio esclarecer que os avanços de hoje não são sinónimo de cessar-fogo.

"Isto não é um cessar-fogo, mas é nossa aspiração chegar gradualmente a uma desescalada do conflito, pelo menos nestas frentes", afirmou Vladimir Medinsky, em entrevista à agência de notícias russa TASS.

Líderes ao telefone

Terminada a ronda desta terça-feira, os Presidentes russo e francês, Vladimir Putin e Emmanuel Macron, falaram ao telefone, durante a tarde.

Putin reconheceu a existência de "progressos" nas negociações com vista a um cessar-fogo na Ucrânia, mas apelou à rendição das tropas "nacionalistas" ucranianas que defendem a cidade de Mariupol.

Segundo a Presidência francesa, o líder da Rússia garantiu a Macron não estar disposto a desistir dos seus objetivos militares na Ucrânia, em particular em Mariupol. Recusa-se, por isso, levantar o cerco daquela cidade.

"Para encontrar uma solução para a difícil situação humanitária nesta cidade, os combatentes nacionalistas ucranianos devem parar de resistir e depor as armas", afirmou Vladimir Putin, de acordo com um comunicado do Kremlin sobre o diálogo com o Presidente francês.

Durante a tarde, e antes da conversa franco-russa, o Presidente dos Estados Unidos esteve ao telefone com alguns líderes europeus. Joe Biden falou com Emmanuel Macron (França), Olaf Scholz (Alemanha), Mario Draghi (Itália) e Boris Johnson (Reino Unido) para discutir os desenvolvimentos da ronda desta terça-feira em Istambul (Turquia).

Washington e Londres já vieram dizer que querem ver para crer. O Ocidente mostra-se cauteloso na reação. Dois altos funcionários norte-americanos dizem ter visto a Rússia começando a retirar algumas de suas forças da capital ucraniana, Kiev, no que acredita ser uma “grande” mudança na estratégia russa, mas uma outra autoridade dos EUA sublinha que qualquer movimento de forças russas de Kiev constituiria uma “realocação, não uma retirada”.

O Reino Unido também viu sinais de “alguma redução” no bombardeio russo em torno de Kiev, anunciou Downing Street, mas insistiu que o Reino Unido julgará os avanços para um eventual acordo de paz por ações e não por palavras.

Também o presidente da Câmara de Chernihiv afirma que apenas “o tempo dirá” se os russos cumprirão a sua palavra.

Mercados reagem bem a anúncios

Os mercados de ações na Europa revelaram sinais positivos na sequência do anúncio de progressos nas negociações entre a Rússia e a Ucrânia.

O CAC40, em Paris, e o Dax, em Frankfurt, subiram mais de 3% às 12h44 GMT, e o índice FTSE100 de Londres subiu 1,34%.

No mercado petrolífero, os preços no comércio internacional caíram, com o Brent a cair mais de 6%.

Encontro Putin/Zelenskiy em cima da mesa

A Rússia sugeriu nesta terça-feira que um encontro entre os presidentes russo e ucraniano seja organizado em simultâneo com a assinatura de um tratado bilateral pelos ministros das Relações Exteriores dos dois países.

A proposta foi avançada pelo negociador russo Vladimir Medinsky, que lidera a delegação russa às negociações com a Ucrânia.

"Após a significativa conversa de hoje, concordamos e sugerimos uma solução, sob a qual uma reunião entre os chefes de Estado é possível simultaneamente com a rubrica do tratado, tanto mais que, durante esta rubrica e consideração dos detalhes do tratado, será possível discutir várias nuances e detalhes políticos", justificou em Istambul.

"Assim, com trabalho sobre o tratado e um compromisso necessário avançar rapidamente, a possibilidade de paz estará muito mais próxima", acrescentou.


Donbass e situação humanitária

Libertar Donbass é o principal objetivo da Rússia e Moscovo não vai desistir dele. A garantia foi dada pelo ministro da Defesa, Sergei Shoigu. As “principais tarefas da primeira etapa da operação foram concluídas”, avançou.

Nesta terça-feira, um ataque aéreo atingiu um prédio do governo na cidade portuária de Mykolaiv, no Sul da Ucrânia, destruindo grande parte da estrutura e deixando pessoas presas sob escombros.

Pelo menos, sete pessoas morreram e 22 ficaram feridas, avançou o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, ao Parlamento dinamarquês, num discurso em vídeo.

Putin não desiste de Mariupol e o Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) pediu aos dois lados em conflito que cheguem a um acordo claro para a saída segura de civis da cidade sitiada e de outros locais da linha de frente. Isto, à medida que os suprimentos vitais se esgotam.

“O tempo está a esgotar-se” para as pessoas em Mariupol, alerta, acrescentando que ainda faltam “acordos concretos” para a passagem segura e evacuação de civis na cidade do Sul da Ucrânia.

Ambulância do Papa chega a Lviv

A ambulância totalmente equipada abençoada pelo Papa Francisco foi entregue nesta terça-feira às autoridades da cidade de Lviv, onde a população aumentou consideravelmente no último mês, devido à chegada de refugiados de todo o país.

De acordo com o “Vatican News”, o veículo seguirá agora para o Centro Regional de Saúde Materna e Infantil.

É a segunda vez em poucos dias que o responsável pelas obras de caridade e sociais do Papa se desloca à Ucrânia. Na última sexta-feira esteve em Portugal, no Santuário de Fátima, onde presidiu ao ato de Consagração da humanidade, em particular da Rússia e da Ucrânia, ao Imaculado Coração de Maria.

Abramovich envenenado?

A notícia chegou na segunda-feira. o bilionário russo Roman Abramovich e dois negociadores de paz da Ucrânia terão sofrido “uma suspeita de envenenamento que fez com que a pele do rosto descascasse, depois de participar de negociações no início deste mês”, revelava o “The Wall Street Journal”.

O envenenamento terá ocorrido há poucas semanas, após um encontro na capital ucraniana, Kiev, enquanto agia como pacificador na guerra da Rússia contra a Ucrânia, relatou o jornal.

Os três desenvolveram sintomas como olhos vermelhos, lacrimejamento doloroso e descamação da pele no rosto e nas mãos.

Hoje, o Kremlin rejeitou as acusações. Os relatos são falsos e “parte da guerra de informação”, afirmou o porta-voz Dmitry Peskov.

“Vá-se f….”. Soldado premiado

O soldado ucraniano que respondeu a um navio de guerra russo com as palavras “vá se f…” foi premiado pelos seus serviços, anunciaram as autoridades ucranianas.

Roman Hrybov servia na Ilha da Cobra – conhecida como Ilha Zmiinyi em ucraniano – quando foi ameaçado por um barco russo. Segundo o Ministério ucraniano da Defesa, Hrybov foi libertado do cativeiro russo e agora está em casa, em Cherkasy.