Ainda há “ricos e pobres” no acesso à saúde
14-06-2016 - 07:11

“As populações mais carenciadas são as que têm menos acesso ao sistema de saúde” e as “implicações são preocupantes”, afirma à Renascença o coordenador do relatório da Primavera do Observatório Português dos Sistemas de Saúde.

Os anos de recessão e de cortes orçamentais agravaram as desigualdades em saúde em Portugal e a situação está longe de ser resolvida, considera o Observatório Português dos Sistemas de Saúde.

De acordo com o relatório da Primavera, divulgado esta terça-feira pela instituição, os mais desprotegidos em termos sociais maiores têm dificuldades de acesso a cuidados médicos.

“Chega-se à conclusão de que as desigualdades em saúde no nosso país aumentaram, que se distanciam de outros países europeus com que nós habitualmente nos comparamos, o que tem implicações preocupantes no próprio sistema de saúde”, afirma à Renascença o coordenador do relatório, Aranda da Silva.

“As populações mais carenciadas, com menor nível de educação e com maiores problemas sociais, nomeadamente mais desempregados, são as que têm menos acesso ao sistema de saúde”, acrescenta.

O documento diz também que o aumento do número de suicídios em Portugal e do consumo de medicamentos para o sistema nervoso pode ser explicado com o período de crise económica e de agravamento do desemprego.

E Aranda da Silva mostra-se preocupado com a saúde mental no país. “Uma parte muito significativa da população ou tem problemas de depressão ou de ansiedade, para não falar das sessões que têm a ver com a falta de capacidades mentais já na parte final da vida”, indica, lamentando que as “muitas mudanças no sistema de saúde mental” não tenham contribuído para “dar resposta às necessidades do sistema de saúde, nomeadamente, do Sistema Nacional de Saúde”.

O Observatório dos Sistemas de Saúde defende, por isso, que o dinheiro que deixou de ser gasto nos três hospitais psiquiátricos encerrados em Portugal deve ser reinvestido na área da saúde mental.

O relatório debruça-se ainda sobre a área da VIH/sida, onde o seu coordenador destaca o facto de cerca de 17% dos “50 e tal mil doentes identificados não estão sujeitos a tratamento”, seja por que razão for. “É preciso corrigir essa situação”, apela.