Ambiente. O que parece positivo nem sempre faz bem
14-09-2019 - 10:34
 • José Pedro Frazão

A generalização de discursos e práticas aparentemente amigas do ambiente pode esconder falsos benefícios para o planeta. O aviso parte da economista Filipa Saldanha no programa “Da Capa à Contracapa”.

A subdiretora do programa Gulbenkian Sustentabilidade Filipa Saldanha alerta para a simplificação do discurso ambiental que apenas identifica aspetos positivos.

A economista assegura que os processos de candidaturas a apoios no programa onde está envolvida incluem uma análise que identifica conclusões demasiado simplistas e até erradas.

“Toda a gente diz que reciclagem é muito bom. Pode ser bom em determinados casos mas pode não fazer sentido nenhum em termos ambientais noutros casos. Por exemplo, reciclar cimento esmagando-o para o usar como composto para cimento novo consome frequentemente mais cimento virgem do que usamos tradicionalmente. Tem mais impactos ambientais negativos do que esperamos na reciclagem de um material”, explica Filipa Saldanha no programa “Da Capa À Contracapa” da Renascença em parceria com a Fundação Francisco Manuel Dos Santos.

A economista, oradora no Encontro “O Futuro do Planeta” que se realiza este fim-de-semana em Lisboa, argumenta que conceitos aparentemente positivos como “economia circular” ou “bioeconomia” incluem disposições que nem sempre são saudáveis.

“Nem sempre a bioeconomia pode fazer sentido. Estamos a recorrer a bens alimentares, vai haver volatilidade de preços, que é má para economia. Estamos a tentar resolver um problema com uma economia de base biológica que vai criar problemas sociais e económicos muito grandes em determinadas regiões”, sublinha Filipa Saldanha, no debate com o antigo ministro do ambiente Jorge Moreira da Silva.

O mesmo raciocínio pode aplicar-se ao uso e reciclagem do plástico. “Se formos analisar o ciclo de vida de um produto, o problema do plástico é o final de vida. Nem sempre é reciclado do modo mais adequado. Se for um plástico para um brinquedo como uma mesa que nos serve a infância toda, tem muito menos impacto ambiental do que um material de madeira”, conclui Filipa Saldanha.