​Falta de Sapadores e excesso de Legionários
08-11-2017 - 20:21

Calamidade. Essa parece ser a melhor forma de descrever o estado dos vários serviços públicos da proteção civil, a começar na falta de sapadores, ou de bombeiros, ou de aviões ou de gente competente e que não seja apenas “boy” até à saúde.

Uma falha técnica. Certamente que foi. Nem seria preciso o ministro dizê-lo, preto no branco, como a hipótese mais provável para ponderar. No caso da legionella do S. Francisco Xavier qualquer um de nós chegaria lá: “o mais provável é ter ocorrido uma falha técnica”.

Mas onde? Bom isso nem o ministro sabe, nem muito menos nós. Terá sido no próprio hospital? Nas imediações? Na fonte mais provável de refrigeração? No ar condicionado? Num dos serviços? Nos chuveiros? Na zona dos aerossóis ou num dos 12 pontos (serão menos ou mais?) onde as colheitas foram feitas, segundo aquela senhora demasiado sorridente que ocupa o cargo de directora-geral da saúde ou segundo as explicações da outra senhora demasiado zangada que explicou aos jornalistas, numa das múltiplas conferências de imprensa que só daqui a “oito, dez, talvez mais dias saberemos exactamente o onde, o como e o porquê”. Sim, porque segundo ela não existem formas de “dar injeções às bactérias que acelerem o processo de cultura”. Por isso os “leads” das notícias vão ter de esperar o tempo das bactérias.

Até lá não adiantam meras hipóteses e seguramente a mais provável continuará a ser a da dita “falha técnica”. O que gostaríamos de saber saberemos só depois. A falha técnica terá sido fruto de não haver verba para a adequada manutenção ou porque o subcontratado cortou nos empregados, nos reagentes, nos procedimentos? O tempo é de cortes. Os tempos anteriores já o eram e de repente o sistema está a rebentar pelas costuras.

Já rebentou. Quem precisou de ir à urgência de Santa Maria nos últimos dias já verificou que as macas se espalhavam nos buracos abertos nas próprias costuras. Alinhadas nos corredores, aos montes. Aos que chegavam de São Francisco Xavier juntavam-se os outros, os normais da zona de Santa Maria. Alguns partiam, poucos, de motum proprio para sítios mais recatados, privados. Tinham geralmente melhor ar do que os que ficavam.

Não era má vontade dos serviços, não era nenhuma falha técnica era mesmo falta de espaço. Não se pode inventá-lo. Aliás no IPO também não. Está lá o hospital de campanha a funcionar há meses à espera das obras. E as obras à espera das verbas. E as verbas à espera da autorização final. E a autorização final à espera da assinatura do ministro da tutela, ou das finanças, ou de um director geral, ou simplesmente perdidas à espera da chave que abre a gaveta onde dorme o projecto cuja autorização já foi autorizada (quem sabe se ainda pelo ministro anterior ao abrigo de um quadro comunitário que entretanto já mudou de número ou de ano ou de estratégia ou de opção ou de pilar onde integrar a verba prevista para as obras urgentes do IPO). O hospital de campanha não se queixa que é para isso que ele serve - para estados de guerra ou calamidade pública.

Calamidade. Essa parece ser a melhor forma de descrever o estado dos vários serviços públicos da proteção civil, a começar na falta de sapadores, ou de bombeiros, ou de aviões ou de gente competente e que não seja apenas “boy” até à saúde. A nossa e a dos serviços. Talvez na cultura a coisa se salve, porque na educação apenas se esconde e o que na educação é fácil de esconder na saúde transparece com uma transparência que nos faz suspeitar que talvez a coisa já não esteja a funcionar nem sequer nos mínimos.

Começaram em duas dezenas e já vão em quase quatro. 38 legionários é muito. Tão seguidos aos mortos dos incêndios, estes dois mortos levados a reboque pela PSP (para a autópsia que o bom senso exigia que já estivesse feita e de que ninguém se lembrou…). São mortos a mais.

E de urgência em urgência, sempre visitadas em primeiro lugar pelo Presidente e depois num corrupio por responsáveis e irresponsáveis começamos a ter medo de ficar doentes a pensar que quem sabe talvez a CUF ou os Mellos ou mesmo os ex-Espirito Santos e seguramente os “Champalimãos” (como gosta de clamar ainda hoje o PCP) não estejam bem ao alcance de todos. Daquele povo que não queria parcerias privadas temendo pelas verbas públicas.

Pelo menos não as revertam já que talvez ainda nos façam falta. Onde está a estratégia de reforço? Em 2018 no Orçamento infelizmente não está. Leiam o relatório da Dr. Teodora Cardoso. Está lá tudo. Talvez a consolidação estrutural não passe afinal de mais uma ilusão de conjuntura com a agravante de podermos chegar a 2018 algures ao ponto de partida de 2011. Sete anos de austeridade depois.