​A necessidade de informação
27-03-2020 - 06:10

Nesta crise as pessoas procuram informação séria e responsável. Daí o papel essencial dos meios de comunicação social credíveis. Mas os políticos também têm que ajudar, evitando faltar à verdade.

A pandemia mandou muita gente para casa. Não admira, por isso, que as audiências de televisão tenham subido. Mais relevante, como Pedro Magalhães escreveu no “Expresso”, comentando uma sondagem ICS/ISCTE, “tendemos a confiar mais na televisão e na imprensa escrita como fontes de informação do que nas redes sociais. Ao contrário do que sucede nalguns países (...) isso é verdade até para os mais jovens”.

Sabe-se como as redes sociais, tirando algumas exceções, não merecem credibilidade. Por ali surgem, quase sempre de fonte anónima, as mais delirantes fantasias, que apenas servem para assustar quem acredita nelas. Ou falsas “curas milagrosas”, o que já levou o Infarmed a alertar para o risco que corre quem aplique essas “receitas”.

O problema é que os meios responsáveis de comunicação social, se por um lado aumentam a sua audiência, em contrapartida sofrem duma publicidade em queda livre, como é natural dada a paragem de grande parte da atividade económica. Em Itália o governo começou a apoiar financeiramente os jornais (incluindo os eletrónicos) e as tabacarias e quiosques que vendem diários e semanários em papel, reconhecendo a importância essencial que têm para uma informação credível.

Justificou o subsecretário de Estado italiano Andrea Martella: os diários e semanários “oferecem um serviço essencial através de notícias úteis, que são uma bússola atualizada nos passos a dar para superar esta situação”. Em Itália, bem como noutros países, notam-se mudanças significativas na “internet”. Os italianos preferem ler os periódicos digitais, pela sua credibilidade, em vez das redes sociais.

Por cá, as tabacarias e quiosques não fecharam com o estado de emergência por causa da necessidade de informação. Faltam os apoios, à imprensa e a outros meios de comunicação credíveis.

Muito interessante, por outro lado, é o artigo “Regresso ao conhecimento” que o escritor espanhol Antonio Munoz Molina publicou no diário “ABC”. Diz ele que “nos havíamos acostumando a viver no nevoeiro da opinião; mas hoje, pela primeira vez desde que temos memória, prevalecem as vozes de pessoas que sabem e de profissionais qualificados e com coragem”.

Penso que em Portugal acontece algo semelhante. Pelo menos aqui, na Renascença, a frequente intervenção de profissionais e especialistas em pandemias é um facto – estou à vontade para o dizer, porque não tenho qualquer influência nas decisões editoriais.

Uma última, mas importante, nota. O trabalho de informação séria de jornalistas e comentadores pode ser posto em causa por erros dos políticos. Foi o que aconteceu com a infeliz frase do primeiro-ministro no parlamento sobre os meios de que dispõe o pessoal de saúde: “Até agora não faltou nada e não é previsível que venha a faltar o que quer que seja”. Trata-se, obviamente, de uma falsidade, como justamente criticou no “Público” João Miguel Tavares. Importa não repetir.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus.