Canábis tem efeito na doença de Alzheimer? Investigadores dizem que sim
23-05-2016 - 10:25

Estudo, co-liderado pela Universidade de Coimbra, revela que alguns efeitos da planta "podem melhorar o consumo de energia pelo cérebro, que se encontra deficitário" nesta doença.

A canábis pode melhorar o consumo de energia pelo cérebro, deficitário na doença de Alzheimer, de acordo com uma investigação internacional que envolve cientistas portugueses. Os investigadores procuram agora separar os efeitos positivos e negativos da substância.

“Alguns efeitos da canábis poderão melhorar o consumo de energia pelo cérebro, que se encontra deficitário na doença de Alzheimer”, revela um estudo liderado pelos centros de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra (UC) e para a Investigação Biomédica em Doenças Neurodegenerativas de Espanha (Instituto Cajal).

“O desafio futuro desta descoberta em ratinhos”, já publicada na revista "Neuropharmacology", reside na separação das consequências negativas e positivas da planta, sublinha a UC, em comunicado.

O principal ingrediente psicoactivo da marijuana – tetrahidrocanabinol (THC) –, actua sobre dois receptores – CB1 e CB2 –, localizados no cérebro, que se distinguem como os “polícias maus e os polícias bons”.

“Os receptores CB1 estão associados à morte neuronal, distúrbios mentais e vício em diferentes drogas ou álcool”, enquanto os CB2, pelo contrário, “anulam muitas das acções negativas dos CB1, protegendo os neurónios, promovendo o consumo de glucose (energia) pelo cérebro e diminuindo a dependência de drogas”.

Através de diversas técnicas laboratoriais, os investigadores concluíram que “os receptores CB2, quando estimulados por análogos do THC quimicamente modificados para interagirem apenas com os receptores CB2 sem activar o CB1, evitando os efeitos psicotrópicos e mantendo os efeitos benéficos, promovem o aumento de captação de glucose no cérebro”, explica Attila Köfalvi, primeiro autor do artigo.

Experiências adicionais com outras técnicas mostraram que este efeito do CB2 não se limita aos neurónios, mas estende-se a outras células do cérebro que ajudam ao funcionamento dos neurónios, os astrócitos.

“No futuro, esta descoberta poderá abrir caminho para uma terapia paliativa na doença de Alzheimer”, admite Attila Köfalvi, citado pela UC.

Na investigação colaboraram os institutos espanhóis Pluridisciplinar da Universidade Complutense de Madrid e de Tecnologia de Madrid e argentino de Investigações Bioquímicas de Bahía Blanca da Universidade Nacional del Sur.

A investigação foi financiada pelo Prémio Belard Santa Casa da Misericórdia, por um programa norte-americano para o desenvolvimento de tecnologias emergentes e por fundos da União Europeia, designadamente através do Programa Operacional Factores de Competitividade (Compete), via Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).