Os destaques da Web Summit, segundo Paddy Cosgrave
05-11-2018 - 08:00
 • José Pedro Frazão

Neste dia de abertura, Paddy Cosgrave revela à Renascença o que quer mudar já a partir do próximo ano na Web Summit: mais diversidade de temas e inclusão da agricultura e alimentação como temas centrais de discussão. Identifica as redes sociais como o tema deste ano, aguarda com ansiedade a palestra do fundador da WWW, diz que a expansão da FIL foi decisiva para ficar e desvaloriza a greve do metro.

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Esta segunda-feira abrem as portas daquela que é a terceira edição da Web Summit no Altice Arena, em Lisboa. Segundo a organização, esta será "a maior e a melhor" de sempre, sendo esperados mais de 70 mil participantes.

A abertura oficial acontece pelas 18h30, com uma intervenção do presidente executivo do evento, Paddy Cosgrave. A inaugurar os discursos estará o físico britânico Tim Berners-Lee, que inventou a rede mundial de acesso à internet (world wide web - 'www') há quase 30 anos.


A Web Summit vai ficar mais dez anos. Estamos a assistir a um virar de página na história da própria conferência?

Sim. Foi muito difícil fazer o planeamento nos últimos 18 meses porque havia muito incerteza. Parecia que não ia ser possível ficar em Portugal. Tornou-se possível mais no fim do Verão. Apresentaram-nos um plano fantástico de expansão da área da Expo, FIL e Altice Arena. Agora, pela primeira vez em muito tempo, podemos começar a planear com bastante certeza com muitos portugueses que trabalham connosco e que nos perguntavam sempre "vai ser Berlim ou Paris? Ouvimos falar em Milão ou Londres. Será que vamos manter os nossos empregos em Portugal?". A resposta é sim. Isto vai permitir-nos pensar a longo prazo já nos próximos dois anos, o que era um fator limitativo nos últimos 12 meses.

Foi uma questão de espaço ou dinheiro ?

O espaço foi a razão que nos levava a sair. Berlim, Madrid, Londres, Paris, todas estas grandes cidades tinham esse espaço, duas ou três vezes maior que a FIL.

Já tem detalhes sobre o que vai mudar na FIL?

Vi alguns dos desenhos iniciais e preliminares feitos pela autarquia. Tenho a certeza que o presidente da Câmara vai fazer uma grande apresentação publica desses planos. A remodelação do espaço será uma oportunidade não apenas para a semana da Web Summit mas para as outras 51 semanas do ano para receber eventos globais em diferentes áreas. Lisboa é uma cidade fantástica para se visitar. Se for agora ao Twitter vai ver como as pessoas passaram o fim de semana em Lisboa antes da Web Summit. Porquê? Porque é uma cidade espetacular para passar o tempo. Isso é poderoso. Com um espaço maior, Lisboa vai receber mais eventos globais.

Há uma greve de metropolitano que coincide com a Web Summit, conferência que se diz ligada aos valores da sustentabilidade. Está preocupado?

Esta é a maior reunião de empreendedores em todo o mundo. E eles tendem a ser pessoas muito criativas e inventivas. Quando se juntam dezenas de milhar de empreendedores, eles arranjam maneira de chegar ao local. Não estou muito preocupado. Se tiverem que andar cinco ou seis quilómetros… não há melhor cidade que Lisboa para dar um passeio!

No futuro, a meta é aumentar o número de participantes? Quer, por exemplo, ultrapassar a fasquia das 100 mil pessoas?

Não. Não penso que a dimensão seja o mais importante. Temos já toda a capacidade. O que é importante é que a Web Summit se expanda para áreas que ainda não estão aqui representadas. Eu cresci numa quinta. E ainda não temos um palco sobre agricultura. Temos palcos sobre carros, sobre robots, música, saúde. Vou trabalhar para que nos próximos anos tenhamos as áreas da agricultura e da alimentação como temas principais da Web Summit. O que vai mudar estará mais ligado à diversidade das áreas que focamos e menos à questão da escala. A escala está tratada, é ótimo sermos a maior conferência. Mas agora o foco deve estar na diversidade.

No ano passado tivemos aqui Stephen Hawking com uma intervenção gravada. Ele morreria meses depois. Quais são os seus próprios destaques da edição deste ano?

Isto é a Web Summit e o discurso de abertura será do criador da rede, da World Wide Web, Sir Tim Berners-Lee. Há sete anos que anualmente o convido a estar presente e esta será a primeira vez que o temos. Ele é um académico, não é um nome sonante. Mas sem ele não haveria rede e é por isso que estamos aqui todos.

Qual é para si o grande tema de debate este ano?

Penso que o grande debate deste ano tem a ver com as redes sociais. Há muita gente que fala nas responsabilidades que as grandes redes sociais têm em relação aos seus utilizadores e à sociedade. Há redes relativamente novas, apenas com uma década de vida. Enfrentamos grandes desafios e interrogações. Será que precisamos de novas regras? Talvez. Vamos ouvir muita gente a falar sobre isso.

Tem ideia de quantos milhões se fazem aqui em negócios?

Eu ouço historias e fazemos estudos de caso. Soubemos por exemplo que a Mercedes abriu aqui um grande escritório, tal como a BMW. A Google também o fez e depois fez um "post" a dizer que as decisões foram tomadas durante a WebSummit. Isso é ótimo, essa vinda de grandes companhias internacionais. Mas gosto também de ouvir sobre empresas portuguesas que conhecem investidores e alargam a sua visibilidade em todo o mundo.

Que tema poderá estar na Web Summit daqui a dez anos?

Quem me dera saber. O mundo está a mudar de forma tão rápida que é difícil saber até que debate vai marcar o próximo ano. Se ambos soubéssemos a resposta a essa pergunta, passaríamos o resto da nossa vida a fazer surf numa praia. Estou focado neste ano e nas muitas questões que se levantam para o próximo ano.