Um bom acordo
29-11-2018 - 06:55

A nomenklatura europeia apregoa permanentemente aos quatro ventos que a União é o projecto político mais bem sucedido de sempre, verdadeira oitava maravilha do mundo sem paralelo e sem pecado. Todos sabemos que não é assim.

Boa notícia, o acordo entre o Reino Unido e a União Europeia relativo ao Brexit.

Esperemos, agora, que o parlamento britânico o aprove. Embora não acredite que o presente acordo seja a última oportunidade (em negociações desta importância nunca há últimas oportunidades), é certo que se o acordo for rejeitado, todos perderão: União e Reino Unido.

Qualquer que seja o desfecho, o pré-Brexit tem desde já efeitos importantes. E, do meu ponto de vista, as consequências a prazo podem ser francamente positivas.

Afirmei, desde que foram conhecidos os resultados do referendo, que, em minha opinião, era preferível que o Reino Unido se mantivesse na União como obstáculo importante que tem sido a alguns dos desvarios federalistas que recorrentemente infectam as instituições europeias.

Mas hoje, face à dinâmica centralista que se está, de novo, a criar, não estou tão certo assim. Talvez a saída seja, afinal, preferível.

A nomenklatura europeia apregoa permanentemente aos quatro ventos que a União é o projecto político mais bem sucedido de sempre, verdadeira oitava maravilha do mundo sem paralelo e sem pecado.

Todos sabemos que não é assim. Mas esta propaganda tem um efeito muito negativo: retira qualquer capacidade de auto-crítica às instituições comunitárias e impede uma verdadeira reforma que liberte a Europa do excesso de centralismo, tão do gosto da nomenklatura pelos proveitos que lhe concede.

Para contrariar os efeitos da propaganda, não há melhor que o banho de realidade que o Brexit traz. Afinal, o projecto europeu não é assim tão maravilhoso. Há um país - que está longe de ser insignificante - que quer sair. Melhor ainda: olhando para a experiência da EFTA, esse país, se efectivamente sair, poderá, no futuro, lembrar-se de liderar um novo espaço de cooperação entre países europeus que não se baseie no centralismo burocrático como se tem baseado a União.

A concorrência, aqui como em outros domínios, será muito bem-vinda.