Terrorista dos atentados de Paris. “Desisti do meu emprego para ser soldado do Estado Islâmico”
08-09-2021 - 15:46
 • Marta Grosso com Reuters

Salah Abdeslam é o único terrorista vivo que participou diretamente nos atentados de 2015. No banco dos réus estão 14 pessoas consideradas figuras-chave na conceção e preparação dos ataques.

O principal suspeito dos atentados de 2015 em Paris, no Bataclan (sala de espetáculo), no Stade de France e numa zona de esplanadas e restaurantes disse ao juiz que preside ao julgamento que desistiu do emprego para aderir ao autodenominado Estado Islâmico.

Quando questionado sobre a sua profissão, Salah Abdeslam tirou a máscara e disse com ar desafiador: “Desisti do meu emprego para me tornar soldado do Estado Islâmico”.

Antes, sem que ainda lhe tivesse sido dirigida qualquer pergunta, o franco-marroquino pronunciou falar. “Primeiro, quero testemunhar que não há outra divindade além de Alá e Muhammad é seu mensageiro”.

O juiz, Jean-Louis Périès, abreviou a intervenção, respondendo: “Veremos isso mais tarde”.

Depois, quando lhe foi perguntada a sua identidade, respondeu, mas recusou dar o nome dos pais, argumentando que “os nomes do meu pai e da minha mãe não têm nada que vir para aqui”.

Os atentados de Paris mataram 130 pessoas. Salah Abdeslam, que terá ajudado a preparar os ataques e deixou três terroristas no estádio de futebol para realizarem o ataque, hoje com 31 anos, apareceu no tribunal vestido de preto e com uma máscara da mesma cor.

É um dos 20 homens acusados de envolvimento (seis encontram-se em parte incerta, pelo que não compareceram no tribunal) nos ataques com armas e bombas, levados a cabo em 13 de novembro de 2015.

Acredita-se que Abdeslam seja o único sobrevivente do grupo que executou os ataques. Os demais suspeitos são acusados por ajudar a fornecer armas e carros ou participar da organização dos ataques, dos quais também resultaram centenas de feridos.

A responsabilidade pelos ataques foi reivindicada pelo Estado Islâmico, que instou os seus militantes a atacar a França na sequência do seu envolvimento na luta contra o grupo terrorista no Iraque e na Síria.

O julgamento vai decorrer durante nove meses, com a participação de cerca de 1.800 vítimas e mais de 300 advogados – o que levou o ministro da Justiça, Eric Dupond-Moretti, a falar em “maratona judicial sem precedentes” e o juiz principal, Jean-Louis Peries, em julgamento histórico.

Onze dos 20 réus já estão presos (e aguardam julgamento); seis serão julgados à revelia, acreditando-se que a maioria já tenha morrido.

A maioria dos réus arrisca-se a prisão perpétua se for condenada.

Antes do julgamento, sobreviventes e familiares das vítimas disseram estar impacientes para ouvir os depoimentos dos suspeitos, na esperança de que possam ajudá-los a entender melhor o que aconteceu e porque aconteceu.

Jean-Pierre Albertini, cujo filho Stephane de 39 anos, foi morto no Bataclan, disse à agência Reuters que a referência de Abdeslam a ser um soldado do Estado Islâmico significa que “temos diante de nós alguém que está em guerra”.

Por seu lado, Thierry Mallet, um sobrevivente do Bataclan, disse: “Preciso de mais para ficar chocado. Não tenho medo”.