Como investir no seu bem-estar? Há ferramentas que precisa conhecer
16-02-2022 - 07:50
 • Marta Grosso

Quando ouve falar em saúde mental afasta-se? E se lhe disser que a ansiedade é uma perturbação mental, e das mais frequentes em Portugal? Há tabus a quebrar.

Para gerir melhor as agruras da vida e os impactos no seu bem-estar, há um conjunto de ferramentas que importa conhecer.

“As pessoas têm de perceber que:

  • há ferramentas que as podem ajudar a sentir-se melhor quando se estão a sentir pior
  • não devem ter medo das emoções – há que as aceitar
  • é possível pôr em prática estratégias de gestão das emoções
  • é possível promover o tempo passado em família
  • é possível também ser mais tolerante connosco próprios
  • é possível procurar equilíbrio entre as vidas pessoal, social e profissional”.

Quem o diz é Carlos Oliveira, presidente da Fundação José Neves, que nesta quarta-feira lança o “Guia de Desenvolvimento Pessoal – como investir no bem-estar e na saúde mental”, um documento de fácil leitura feito em parceria com a Escola de Medicina da Universidade do Minho – “todo ele está cientificamente fundamentado” – dirigido a “todos os portugueses que querem ser a melhor versão de si mesmos”.

Para tal, é importante perceber, antes de mais, que “não há saúde sem saúde mental” (diz a própria Organização Mundial de Saúde) e que “todos temos problemas” desta índole. “Esta é a primeira barreira que precisamos de deitar abaixo”, aponta Carlos Oliveira à Renascença.

Ansiedade, emoções e pensamentos

A ansiedade faz parte do lote de perturbações mentais, tal como a depressão – dois ‘estados de alma’ que a pandemia veio acentuar e que representam as perturbações mentais com maior incidência em Portugal e no mundo.

Mas não há que ter medo. O importante é identificar e aceitar o que sentimos para depois enfrentar.

“Muitas vezes, somos nós próprios que damos cargas aos acontecimentos que vivemos que geram mais ansiedade e mais desconforto, quando se calhar basta olharmos um bocadinho para esse impacto de forma diferente”, afirma o presidente da Fundação José Neves.



Como é que os pensamentos e as emoções estão ligados? A raiva e a ansiedade facilmente se confundem, mas as suas origens são diferentes, pelo que devem ser tratadas de modo diferenciado.

Daí, a importância do investimento no autoconhecimento. “A investigação científica tem demonstrado que as pessoas com mais dificuldades em reconhecer e expressar as suas emoções, apresentam níveis baixos de bem-estar e mais sintomas físicos de ansiedade e stress, como dores de cabeça constantes, dificuldades respiratórias, sistemas imunitários mais débeis”, refere o Guia.

Assim, saber identificar e caracterizar as emoções sentidas ajuda a determinar melhor o que está na sua origem e a melhor maneira de resolver o problema.

Aceitar sem julgar

Depois de identificar as emoções, é importante aceitá-las. É a única maneira de perceber que mensagem está contida em cada emoção, permitindo que possamos depois ajustar melhor o nosso comportamento.

“É importante termos consciência das nossas experiências emocionais, sem julgarmos o que fazemos, pensamos ou sentimos”, indica o Guia. As emoções fazem parte da vida. E a vida é feita de muitas vidas que se entrelaçam e desafiam o nosso equilíbrio emocional e o nosso bem-estar.

Não quero ir a um psicólogo!

Nem tem de ir. Repare, contudo, que se estiver a sentir febre ou outro sintoma físico, a tendência é procurar ajuda – nem que seja saber o que um amigo fez numa situação idêntica.

Já se o incómodo for de cariz emocional, há sempre grande dificuldade em partilhar e até expressar. A situação é, por vezes, esticada a tal ponto que, quando vai se procurar apoio médico, o incómodo já se transformou numa patologia a ser tratada pela psiquiatria ou pela psicologia.

É um estado que se pode evitar se forem tomadas medidas que estão ao alcance de qualquer um e que só depende da vontade própria: autoconhecimento, autoexercício para gerir as emoções e adoção de comportamentos para evitar a escalada até à patologia.

Sucesso e bem-estar

O sucesso pessoal está muito dependente da maneira como “gerimos as emoções e conseguimos ter um equilíbrio e um estado de bem-estar o mais permanente possível”, afirma Carlos Oliveira.

“As pessoas, para serem mais felizes, têm de ter educação, ter as competências para poderem conhecer o mundo que as rodeia e para serem bem sucedidas nas suas atividades, mas também têm de ter um conhecimento interior cada vez mais aprimorado para poderem equilibrar estes dois mundos: o conhecimento exterior e o conhecimento interior”, acrescenta.



O bem-estar é fruto de uma prática diária de rotinas que promovem o equilíbrio e uma boa gestão dos impactos do mundo que nos rodeia. “Não há propriamente receitas” únicas, dado que somos todos diferentes, “mas também somos muito iguais em muitas coisas e há ferramentas emocionais, ferramentas relacionais, ferramentas de gestão pessoal, ferramentas de gestão profissional” que faz sentido conhecer e explorar.

O “Guia de Desenvolvimento Pessoal – como investir no bem-estar e na saúde mental” apresenta algumas dessas ferramentas e ajuda a explorá-las, de maneira a que, depois, cada pessoa saiba utilizar a que mais lhe fizer sentido e aquela com a qual alcança melhores resultados.

A partir desta quarta-feira, este guia está disponível em formato digital e pode ser descarregado em PDF. “Queremos que as pessoas possam lê-lo e tê-lo também como uma ferramenta de consulta que possam depois complementar, quer com a aplicação 29KFJN quer com outras” (veja mais aqui sobre a aplicação 29KFJN).

“O guia tenta cobrir, com o apoio em fundamentação científica, estratégias para ajudar a gerir diversas vertentes” da vida pessoal, relacional, social e profissional, indica ainda o presidente da Fundação José Neves.

Portugal é o segundo país da Europa com maior prevalência de doenças psiquiátricas e um em cada cinco portugueses sofre de uma perturbação mental.