Cardeal Patriarca. “Continua a ser difícil” não poder “comunicar diretamente com os outros”
11-06-2020 - 13:42
 • Susana Madureira Martins , Marta Grosso

“Se hoje nos resguardamos é para melhor nos recuperarmos amanhã”, reitera D. Manuel Clemente, que elogia os cristãos que, durante o confinamento, comungaram espiritualmente.

Neste dia em que se celebra o Corpo de Deus, o Cardeal Patriarca de Lisboa reconhece que continua a ser difícil tanto resguardo por causa da pandemia.

Na missa a que presidiu na Sé de Lisboa, nesta quinta-feira de manhã, D. Manuel Clemente assumiu que nada dispensa a relação próxima com o outro, mas que as novas tecnologias ajudam a prosseguir.

“Foi e continua a ser difícil tanto resguardo que nos tolhe a natural necessidade de comunicar diretamente com os outros”, começou por dizer.

“As possibilidade mediáticas de que dispomos – para quem realmente a tenha e saiba usar – ajudam a prosseguir de outro modo o trabalho, a escolaridade, os contactos em geral. Mas não conseguem dispensar a relação próxima e espontânea que a nossa corporalidade requer”, reforçou.

“Precisamos de ver e ser vistos, de ouvir e ser ouvidos, de tocar e ser tocados. O próprio Deus nos quis chegar assim, na corporalidade humana que em Jesus Cristo teve”, lembrou ainda D. Manuel Clemente.

O resguardo que ainda mantemos, permitirá, contudo, que no futuro se recupere em pleno a convivência com o outro, reconheceu.

“Se hoje nos resguardamos a bem dos outros é para melhor nos recuperarmos amanhã, em convivência mais segura. E com melhores práticas também, mais respeitadoras de todos e de tudo”, afirmou na sua homilia.


Lembrando a invocação do Papa Francisco de São Francisco de Assis, o Cardeal Patriarca afirmou que esse “testemunho mostra que uma ecologia integral requer abertura para categorias que transcendem a linguagem das ciências exatas ou da biologia e nos põem em contacto com a essência do ser humano”.

Durante a homilia, D. Manuel Clemente disse ainda que muitos cristãos se mantiveram impedidos de comungar presencialmente, mas considerou ter havido uma dimensão espiritual que deu bons frutos.

“É Cristo que continua connosco no Corpo ressuscitado que torna presente em toda a parte: no sacramento em que realmente se oferece e na comunidade que forma com os que recebem. A antiguidade cristã designada com as mesmas palavras, Corpu Cristi, o Corpo nascido da Virgem Maria, o Corpo eucarístico e o Corpo eclesial de Cristo”, sublinhou.

“Assim mesmo o sentiram muitos cristãos durante a pandemia que nos chegou. Impedidos como estavam na assembleia eucarística e de receber a hóstia consagrada, não deixaram de comungar espiritualmente com inteira verdade e bom fruto”, considerou.

O Cardeal Patriarca lembrou ainda que “foi a caridade que levou Cristo ao sacrifício de que a eucaristia é sacramento” e que “é a caridade de Cristo que leva os seus discípulos ao que for necessário para o maior bem dos outros”. Por isso, “neste caso, abstenção é comunhão”.

A celebração na Sé de Lisboa decorreu com respeito das normas sanitárias em vigor. Neste ano, e pela primeira vez em vários séculos, não houve procissão do Corpo de Deus, por causa da pandemia de Covid-19.

No Porto, o bispo D. Manuel Linda celebrou a eucaristia na Sé da cidade.