O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, decidiu retirar da agenda da sessão plenária do parlamento um polémico projeto de lei que ampliaria a influência do rabinato nas autoridades locais do país, gerando críticas dos ultraortodoxos na coligação governamental.
De acordo com o jornal "The Times of Israel", Netanyahu ordenou a mudança após consultar o líder da coligação no parlamento, Ofir Katz, que deveria remover dois deputados do partido governamental Likud da Comissão de Constituição, Lei e Justiça devido à sua oposição ao projeto.
Em resultado, o líder do partido ultraortodoxo Shas, Aryeh Deri, alertou para um possível colapso da coligação devido à "perda de controlo" de Netanyahu, segundo uma conversa entre ambos, divulgada pela rede de televisão Channel 12.
As críticas ao projeto derivam do custo para os contribuintes dos salários de centenas de novos rabinos em bairros de Israel, um reflexo do aumento do peso das fações ultraortodoxas desde a formação do executivo em janeiro de 2023, quando Netanyahu precisou do apoio dos grupos radicais para garantir o seu regresso ao poder.
O projeto prevê que o rabinato e o Ministério dos Assuntos Religiosos controlem as nomeações dos rabinos nos bairros e municípios, que recebem salário público, substituindo o sistema atual, em que os gabinetes dos autarcas têm jurisdição sobre essas designações.
De acordo com informações recolhidas pelo jornal The Jerusalem Post, os opositores à proposta consideram que se trata de uma tentativa dos partidos ultraortodoxos, especialmente do Shas, de nomear os seus membros para estes cargos e ganhar influência em assuntos religiosos e seculares.
Fontes do Shas citadas pela emissora pública Kan indicaram que o colapso do executivo é inevitável, devido à falta de disciplina na coligação.
Por sua vez, o líder da oposição israelita, Yair Lapid, afirmou que Netanyahu "está a começar a entender que há pessoas no Likud que não querem continuar a suportar esta vergonha", indicando que o próximo teste é a lei do recrutamento.
"O que é mais importante, a sobrevivência política ou a sobrevivência das tropas?", questionou Lapid, em referência à rejeição por parte de setores ultraortodoxos do projeto de lei para estabelecer o serviço militar obrigatório entre esta população, até agora isenta, em plena ofensiva militar na Faixa de Gaza.
O Governo liderado por Netanyahu, o mais à direita da história de Israel, pondera acabar com a isenção do serviço militar para os ultraortodoxos em resultado do atual contexto de guerra, desencadeado pelo ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano Hamas em solo israelita, em 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns.
Desde então, as forças israelitas têm em curso uma vasta operação militar na Faixa de Gaza, onde já morreram mais de 37 mil pessoas, na maioria civis, num conflito que ameaça alastra ao Líbano e a outras regiões do Médio Oriente.