Um PS “à deriva”? Há socialistas que acham que sim
11-04-2019 - 19:46
 • Susana Madureira Martins

O recuo da direção parlamentar na questão dos advogados-deputados e o tema das relações familiares no governo está a deixar preocupados os próprios socialistas.

As voltas e reviravoltas do PS em matérias de transparência e ética estão a deixar muitos socialistas nervosos e a preocupação chega à direção. Há mesmo dirigentes que temem um “PS à deriva”, sobretudo depois de nesta quinta-feira se terem sucedido episódios relativos ao pacote da transparência e às nomeações de familiares.

À saída da habitual reunião do PS o próprio líder parlamentar, Carlos César, anunciou que a bancada ia voltar à proposta inicial na comissão da transparência sobre as incompatibilidades dos deputados que sejam advogados, alargando a todas as sociedades a que pertençam a inibição de participarem em litígios que envolvam entidades públicas.

Ora, esta reviravolta caiu muito mal entre alguns dirigentes socialistas contactados pela Renascença, que falam numa "deriva" da bancada parlamentar em relação a este assunto, considerando que a direção liderada por Carlos César, só recuou depois de "levar pancada".

É igualmente demonstrado desagrado em relação à prestação do vice-presidente da bancada Pedro Delgado Alves que tem a cargo precisamente as questões da comissão da transparência; há mesmo socialistas que consideram que "em tudo o que se mete dá asneira".

Registe-se que, esta quinta-feira, Pedro Delgado Alves anunciou que o PS quer impedir nomeações diretas de parentes dos governantes até ao terceiro grau e gerou-se uma confusão entre os jornalistas sobre se isso iria incluir ou não primos direitos e foi preciso o grupo parlamentar corrigir as declarações do próprio vice-presidente da bancada. Afinal, o grau de parentesco abrangido vai até ao quarto grau e, sim, os primos estão incluídos.

Esse impedimento, contudo, não impede nomeações cruzadas. Ou seja, que um membro do Governo nomeie não um familiar próprio, mas um familiar de outro membro do Governo. Tendo em conta os casos em curso, não impediria as escolhas de José Vieira da Silva e Mariana Vieira da Silva (pai e filha) ou de Ana Paula Vitorino e Eduardo Cabrita (marido e mulher) para ministros ou a nomeações da mulher de Pedro Nuno Santos (ministro das Infraestruturas) para chefe de gabinete de Duarte Cordeiro (secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares).

Só impediria, quando muito, a nomeação de um primo para adjunto pelo agora ex-secretário de Estado do Ambiente Carlos Martins. Uma nomeação que acabou por dar as únicas demissões governamentais no que já é conhecido como o “familygate” e levar à posse, esta quinta-feira, de um novo secretário de Estado do Ambiente, José Ataíde das Neves.