Interrogações sobre a China
10-03-2023 - 06:30
 • Francisco Sarsfield Cabral

A China aspira a concorrer em pé de igualdade como os EUA. Mas a credibilidade dos dirigentes chineses tem sofrido abalos nos últimos anos.

Os Estados Unidos fizeram, há semanas, um aviso à China: se exportasse armas para a Rússia, Washington tomaria sérias medidas de retaliação (sanções económicas, provavelmente). A China negou, com indignação, que fosse vender armas aos russos.

De facto, não seria de esperar de um país, como a China, que apresentou várias propostas no sentido de caminhar para a paz na Ucrânia, que tomasse abertamente partido pela Rússia – pois perderia as suas credenciais de medianeiro. Aliás, nessas propostas está o respeito pela Carta da ONU e pela soberania dos Estados no seu território – duas exigências que a Rússia violou ao invadir a Ucrânia.

Mas nada garante que a China não esteja a seguir deliberadamente uma via ambígua quanto ao apoio à Rússia. A invasão russa desagrada a Pequim, que invoca o seu direito soberano de tratar Taiwan como parte integrante do seu território nacional. Mas, por outro lado, a Pequim agrada que essa invasão esteja a criar problemas aos EUA.

Quanto aos solenes desmentidos de que irá vender armas à Rússia, não merecem total credibilidade. Sobretudo se for para salvar a Rússia de perder a guerra. A China é o quarto exportador mundial de armas e, escreve o Economist, os dirigentes chineses garantiram não enviar armas para países em guerra, mas, no entanto, é isso que fazem.

Também a credibilidade chinesa está abalada em matéria de economia. As previsões oficiais de crescimento do PIB chinês têm sido desmentidas pela realidade, o que terá levado Pequim a prever para 2023 um crescimento de 5%, quando os observadores esperavam mais.

Parece ultrapassada a fase durante a qual a economia chinesa crescia a um ritmo de dois dígitos por ano. Existem problemas na economia da China que ainda não foram resolvidos, como a crise imobiliária – o setor do imobiliário foi um dos principais motores do espetacular crescimento económico chinês durante vinte anos, o que agora já não acontece.

Os zig-zags dos dirigentes chineses no combate à covid-19 da mesma maneira convidam a uma atitude de desconfiança crítica face à declarações oficiais de Pequim. Mas há um obstáculo ao crescimento económico que o partido comunista chinês não aborda: a excessiva interferência do partido, que ali se confunde com o Estado, na gestão das empresas que operam na China. Longe vai o tempo de relativa liberdade empresarial instaurado por Deng Xiao Ping.