Papa encontra-se "várias vezes por mês" com vítimas de abusos
15-02-2018 - 11:39
 • Agência Ecclesia

Porta-voz reforça informação avançada por Francisco em encontro com jesuítas no Peru.

O porta-voz do Vaticano confirmou, esta quinta-feira, que o Papa se encontra “várias vezes por mês” com vítimas de abusos sexuais, em reuniões privadas que normalmente não são noticiadas.

O anuncio de Greg Burke surge no dia em que foram publicadas as declarações de Francisco no seu encontro de janeiro último com grupos de jesuítas no Peru, a 19 de janeiro, na revista ‘La Civiltà Cattólica’, com o pontífice a revelar que, normalmente, “à sexta-feira”, se reúne com pessoas que foram abusadas sexualmente por membros do clero ou em instituições da Igreja Católica.

“O Papa Francisco ouve as vítimas e procura ajudá-las a curar as graves feridas causadas pelos abusos sofridos. Os encontros decorrem com a maior reserva, por respeito às vítimas e ao seu sofrimento”, precisa a sala de imprensa da Santa Sé.

No texto publicado na “Civiltà Cattolica”, aprovado pelo pontífice, Francisco fala numa realidade “horrível” e uma “grande humilhação para a Igreja”.

“É preciso ouvir o que sente alguém que foi abusado. Às sextas-feiras – às vezes sabe-se, outras não – encontro-me habitualmente com algumas destas pessoas”, referiu.

O Papa aponta o dedo ao “nível de hipocrisia” de alguns membros das comunidades católicas perante este problema, que classifica como “a maior desolação que a Igreja está a sofrer”.

Francisco confessou ter sentido “vergonha” quando um dia, ao passear por Buenos Aires, ouviu um pai chamar o seu filho quando o viu, pedindo-lhe “cuidado com os pedófilos”.

“Às vezes exibem-se ‘prémios de consolação’ e há mesmo quem diga: ‘Sim, olha as estatísticas, 70%, não sei, dos pedófilos está no meio família, os conhecidos; depois nos ginásios, nas piscinas; a percentagem de pedófilos que são padres católicos não chega a 2%’”, relatou.

Para o Papa, não é legítimo minimizar este problema, que destrói as vítimas.

No final de janeiro, Francisco enviou ao Chile o arcebispo maltês D. Charles Scicluna para analisar a situação do bispo Juan Barros, que está a ser acusado de ter encoberto os casos de abusos sexuais envolvendo a Igreja Católica naquele país.

O Papa abordou os casos de abusos sexuais cometidos por membros do clero ou em instituições da Igreja Católica no Chile, durante um encontro em Santiago com as autoridades políticas, civis e membros do corpo diplomático do país, no início do segundo dia da sua vista àquele país da América do Sul.