​A derrota de Salvini
30-08-2019 - 06:18

É positivo que uma das mais importantes figuras da extrema-direita na Europa, do euroceticismo, do ódio à imigração e (também) da hostilidade ao Papa Francisco, tenha mostrado ao mundo que não é todo poderoso.

O governo que ontem o presidente da República italiana encarregou Giuseppe Conte de formar poderá durar até 2023. Mas não é provável que consiga manter-se até lá.

A nova coligação envolve o Movimento 5 Estrelas (M5E) e o partido democrático (PD). Ora o M5E declara-se anti-sistema e o PD é uma força política do sistema. Vários militantes do M5E estão contra esta coligação; talvez isso leve o M5E a não fazer o seu habitual referendo eletrónico entre os seus militantes. Para já, bastam-lhe os deputados de que dispõe no parlamento – e que não querem perder o lugar.

É verdade que o PD cedeu a uma das exigências do M5E: manter G. Conte como primeiro-ministro. Conte demitiu-se com um discurso violento contra Salvini, que considerou irresponsável e de agir em função dos seus interesses pessoais e não do interesse nacional. Mas os problemas mais difíceis vão surgir quando for apresentado o orçamento para 2020 do novo governo, sabendo-se que a Comissão Europeia não permitirá grandes fantasias na despesa pública.

Mais importante do que as perspetivas do novo governo é a pesada derrota sofrida por Salvini. Este líder da Liga aproveitou a pasta de ministro do Interior no anterior governo para lançar uma campanha muito agressiva e até brutal contra a entrada de refugiados em Itália. Assim, logrou que a popularidade do seu partido, a Liga (que já foi do Norte…), ultrapassasse largamente a do M5E.

Apostando em que ganharia eleições antecipadas, em 8 de agosto Salvini manifestou a intenção de pôr um ponto final na coligação com o M5E. Afirmou pretender “plenos poderes”. E apresentou uma moção de censura contra o governo de que ele próprio era vice-presidente e ministro…

O primeiro-ministro G. Conte adiantou-se, demitindo-se (o que automaticamente fez cair o governo) e arrasando Salvini num discurso muito crítico no Senado. A partir daí gerou-se numa parte da classe política italiana um sentimento de urgente necessidade de travar Salvini.

Renzi, primeiro-ministro de um anterior governo do PD, foi muito ativo nesse processo de bloquear Salvini, um político de índole fascista. Renzi convenceu o atual líder do PD, Zingaretti, a apoiar um governo de coligação com o M5E, apesar do seu populismo, para evitar eleições a curto prazo.

Claro que Salvini não termina agora a sua carreira política. Mas é positivo que uma das mais importantes figuras da extrema-direita na Europa, do euroceticismo, do ódio à imigração e (também) da hostilidade ao Papa Francisco, tenha mostrado ao mundo que não é todo poderoso.

P. S. Esta coluna vai para férias, devendo regressar na última semana de setembro.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus