EUA. Preparador físico administrou substância controlada a jogadora sem consentimento
25-01-2023 - 16:28
 • Inês Braga Sampaio

Pierre Soubrier, do Portland Thorns, e que é casado com uma jogadora da equipa, administrou uma substância que continha codeína a várias jogadoras, sem receita. Caso surge no âmbito de uma mega investigação a abusos na Liga feminina dos EUA, que resultou em vários despedimentos, suspensões e banições.

Um preparador físico do Portland Thorns, campeão da Liga feminina dos EUA (NWSL), foi despedido por ter administrado, sem receita, codeína, uma substância controlada, a jogadoras, uma delas sem consentimento.

O caso está inserido numa investigação a fundo a casos de discriminação (homofobia, racismo, sexismo, xenofobia, etc) e abusos sexuais na NWSL, que já produziu resultados que abalaram o futebol feminino nos EUA e resultou em vários despedimentos, suspensões e banições.

A mais recente é de que Pierre Soubrier, que é casado com uma jogadora dos Thorns, a internacional norte-americana Crystal Dunn, administrou uma medicação que continha codeína "em múltiplas ocasiões e sem receita". No caso de uma atleta, foi sem consentimento.

Concretamente, nas meias-finais dos "play-offs", a 22 de outubro, em que a equipa de Portland derrotou o San Diego Wave por 2-1, com um golo nos descontos, Soubrier administrou codeína a duas jogadoras.

A codeína é um opiáceo usado, no desporto, como analgésico, para tratar fadiga, dor e inflamação causadas por lesões ou sobrecarga. Não está comprovado que melhore a performance desportiva e não faz parte da lista de substâncias proibidas pela Agência Mundial Antidoping.

É uma substância controlada, que requer receita e tem de ser administrada por um profissional de saúde. Aquilo que Soubrier fez constitui uma violação das leis federais dos EUA e estatais do Oregon. O treinador está proibido de trabalhar na NWSL em 2023.

O caso foi denunciado pela médica do Portland Thorns, Breanne Brown, que também fez queixa de si própria. Brown revelou que tinha dado a Soubrier acesso a codeína para administrar às jogadoras caso necessário. No entanto, acabou por se arrepender e "comunicou prontamente a Soubrier que [a codeína] não deveria ser administrada".

Houve mais casos no Portland Thorns. A treinadora adjunta Sophie Clough foi despedida pelo clube e suspensa sem vencimento pela NWSL devido a contacto físico não consentido com uma jogadora.

Em dezembro, após levar Portland à conquista do campeonato, a então treinadora principal, Rhian Wilkinson, apresentou a demissão e fez queixa de si própria à Liga, por ter desenvolvido uma relação amorosa com uma jogadora. A NWSL ilibou-a de conduta imprópria.

Cinco treinadores banidos indefinidamente


Nas mais recentes revelações, também está implicado o ex-treinador do Washington Spirit, Kris Ward. Foram provadas as alegações de "abuso verbal e conduta emocional imprópria". Várias jogadoras acusaram-no de "comportamento excessivamente agressivo e assédio através de estereótipos raciais negativos". Está proibido de trabalhar na NWSL a não ser que haja aprovação da comissária da Liga e, para tal, terá de cumprir vários requisitos, de acordo com um comunicado.

"Participar em treino obrigatório relacionado com discriminação, assédio, bullying e preconceitos raciais, demonstrar compromisso sincero para corrigir o seu comportamento, admitir os seus erros e aceitar responsabilidade pessoal por conduta imprópria", lê-se.

Foi há somente duas semanas que a NWSL baniu, para sempre, quatro antigos treinadores - Paul Riley (ex-Thorns), Christy Holly, Rory Dames e Richie Burke, todos por discriminação racial e de orientação, assédio, coerção sexual e/ou bullying. Um quinto, Craig Harrington, está proibido de treinar na Liga durante os próximos dois anos.

Também houve vários dirigentes implicados na investigação, por abusos e discriminação ou por terem suprimido queixas de jogadoras. Um deles foi o ex-CEO do Portland Thorns, que foi obrigado a vender o clube.