O preço da impreparação
22-10-2019 - 06:45

O governo anunciou em abril uma substancial redução do preço dos passes. Mas os transportes públicos e os privados não foram previamente avisados. Daí que a oferta só deverá corresponder à procura em 2021.

No passado mês de abril o governo de A. Costa tirou um coelho da cartola: anunciou uma forte redução do preço dos passes sociais; primeiro nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, depois no resto do continente (ou quase). A simpática medida teve, até, uma justa dimensão social, pois os que não possuem automóvel, por falta de posses, viajam de transportes públicos – autocarros e comboios.

A descida no custo dos passes para os utentes alcançou o seu principal objetivo: obviamente, o reforço eleitoral do PS, embora sem alcançar a maioria absoluta.

Só que nem tudo correu bem. Aumentou o número de passageiros nos transportes públicos, mas não aumentaram os meios desses transportes. Resultado: comboios e autocarros passaram a transportar pessoas como sardinha em lata nas horas de ponta. E os tempos de espera dos autocarros tornaram-se infernalmente longos, até porque é frequente os passageiros verem passar dois ou três autocarros cheios, que nem param onde as pessoas os aguardam.

Como a baixa do preço dos passes foi decidida e anunciada sem a menor preparação, os transportes coletivos de passageiros, públicos e privados, foram incapazes de corresponder ao acréscimo da procura. Esta situação foi ontem objeto de uma reportagem da Renascença. O programa “As três da manhã” entrevistou o presidente da Associação Nacional de Transportes Rodoviários de Pesados de Passageiros (ANTROP), Luís Cabaço Martins.

Disse o presidente da ANTROP que a presente e anómala situação só deverá ficar resolvida em 2021. Até lá, os utentes dos transportes coletivos continuarão a pagar um significativo custo em tempo de espera e incomodidade pelas insuficiências do serviço. Mas, claro, a austeridade já acabou há muito tempo.