Dia 70. Rússia anuncia cessar-fogo em Azovstal após um dia de combates violentos. Costa vai a Kiev
04-05-2022 - 20:06
 • André Rodrigues

Em Bruxelas, os 27 reforçam as sanções a Moscovo. Ursula von der Leyen anunciou um sexto pacote de sanções que propõe a proibição total das importações de petróleo até ao fim do ano. Por cá, o caso de Setúbal no centro da polémica: a autarquia pede discrição pública sobre o caso e o Serviço de Informações já sabia de tudo há um mês. Mas não respondeu às denúncias da associação dos ucranianos em Portugal.

Com o 70.º dia da guerra prestes a terminar, há relatos de explosões nas cidades de Kiev, Dnipro, Zaporíjia e Cherkasy, precisamente no mesmo dia em que as forças russas aumentaram a pressão sobre o último reduto ucraniano em Mariupol.

As últimas horas ficaram marcadas por violentos ataques por parte das forças russas ao complexo siderúrgico de Azovstal, onde ainda permanece um número elevado de civis, entre eles 30 crianças.

Segundo a Sky News, que cita um jornalista ucraniano, o exército do Kremlin já começou a ocupar posições no complexo industrial e há relatos de combates violentos no interior da fábrica.

"Os ocupantes estão a tentar suprimir a resistência feroz dos defensores de Mariupol. O exército de Putin está a usar todas as armas disponíveis. Os civis continuam sob bombardeamento na fábrica", relatou Andriy Tsapliyenko.

No entanto, dos últimos minutos, surge a indicação de que a Rússia avança com uma trégua na siderurgia de Mariupol para permitir a continuação da retirada de civis.

Russos querem celebrar “Dia da Vitória” em Mariupol?

Com o dia 9 de maio a aproximar-se, aumentam as suspeitas do lado ucraniano de que a Rússia pretenderá realizar uma parada militar em Mariupol para assinalar a derrota da Alemanha nazi.

De acordo com a agência de notícias France Presse, os serviços secretos de Kiev indicam que um alto funcionário do Kremlin estará em Mariupol a fim de realizar verificações técnicas com vista a organizar um desfile militar do "Dia da Vitória" russa que, no resto da Europa, é denominado como o “Dia da Europa”.

Em comunicado, a secreta ucraniana refere que Moscovo pretende fazer daquela cidade portuária “um centro de celebração” e, para isso, estão a proceder à retirada de cadáveres e destroços das ruas centrais da cidade.

Finlândia e Suécia querem acelerar adesão conjunta à NATO

Noutra contagem decrescente, a da apresentação da inscrição conjunta da Finlândia e da Suécia à NATO, um helicóptero militar russo violou o espaço aéreo finlandês.

Esta quarta-feira, as primeiras-ministras da Suécia e Finlândia defenderam que a melhor garantia de segurança caso os dois países solicitem a adesão à NATO seria um rápido processo de aprovação por parte do conjunto dos Estados-membros da Aliança.

A Finlândia aguarda uma ratificação "o mais rápido possível" pelos 30 membros da NATO em caso de candidatura única ou com a Suécia para a adesão à Aliança atlântica, indicou a primeira-ministra Sanna Marin, numa conferência de imprensa, após a cimeira de Copenhaga entre a Índia e os países nórdicos.

Entretanto, o primeiro-ministro, António Costa, aceitou o convite do seu homólogo ucraniano para se deslocar a Kiev e encontrar-se com Volodymyr Zelenskiy.

O anúncio foi feito pelo próprio Chefe do Governo português, após um encontro por videoconferência.

Costa acrescentou que será assinado um acordo de apoio financeiro de Portugal no âmbito do programa de apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI) de apoio à Ucrânia, um "apoio substancial", segundo o primeiro-ministro português.

UE quer banir petróleo russo até ao fim do ano. A Hungria não

Foi outra das declarações marcantes do dia.A presidente da Comissão Europeia anunciou a proibição de importação de petróleo russo até ao fim do ano como a mais emblemática das medidas inscritas no sexto pacote de sanções europeias a Moscovo.

Mas há, entre os 27, quem não consiga resolver a dependência da matéria-prima. É o caso da Hungria que rejeita a proposta anunciada por Ursula von der Leyen.

A decisão foi anunciada em vídeo no Facebook pelo ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro, Peter Szijjarto, que afirma que o fornecimento de energia ao país "seria completamente destruído" por um embargo ao petróleo russo, o que tornaria "impossível para a Hungria obter o petróleo suficiente para o funcionamento da economia".

O governante húngaro diz que esta "não é uma questão de vontade política ou tempo": "Esta é simplesmente uma realidade física, geográfica e infraestrutural."

Por cá, ainda os danos colaterais da polémica com os refugiados ucranianos acolhidos por cidadãos alegadamente pró-Kremlin em Setúbal.

A Iniciativa Liberal (IL) vai chamar ao Parlamento a secretária-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), Graça Mira Gomes, para esclarecimentos sobre o caso dos refugiados ucranianos recebidos por associações pró-Putin.

Em declarações à Renascença, o líder parlamentar da IL, Rodrigo Saraiva, anuncia que vai perguntar o que fizeram os Serviços de Informações depois de “terem recebido esta carta, este apelo de ajuda e as denúncias da Associação de Ucranianos em Portugal”.

O SIRP, que funciona na dependência direta do primeiro-ministro, foi informado do caso dos refugiados ucranianos, por carta, há um mês (consulte o documento em PDF), informação avançada à Renascença pelo presidente da Associação de Ucranianos em Portugal, Pavlo Sadokha.

O email a denunciar que refugiados estavam a ser recebidos por associações pró-Rússia foi enviado a 2 de abril e não obteve resposta, até agora.