​A trapalhada de Trump na Síria
11-01-2019 - 06:29

O imprudente e absurdo anúncio de Trump de que iria retirar os militares da Síria já evoluiu, sem evitar um conflito com a Turquia de Erdogan.

As notícias vindas dos EUA têm-se concentrado no braço de ferro entre o Presidente e a maioria do partido democrático na Câmara dos Representantes, por causa do muro na fronteira com o México, que Trump quer ver financiado. Mas outras coisas aconteceram que merecem atenção.

No passado dia 19 de dezembro Trump surpreendeu toda a gente ao anunciar que iria retirar da Síria os dois mil soldados americanos ali estacionados e que ajudaram a reduzir significativamente a ameaça dos terroristas do chamado “Estado islâmico” (EI). Saída que seria praticamente imediata.

A surpresa geral teve a ver com que essa retirada, saudada por Putin, é uma vitória para a Rússia e para o Irão, aliados de Bashar al Assad, o cruel tirano da Síria, que assim vê consagrada a sua permanência no cargo. Além disso, a retirada americana coloca os seus aliados curdos desde 2014 – grandes combatentes contra os terroristas islâmicos – na eminência de serem atacados pela Turquia de Erdogan, que detesta os curdos.

Destacados senadores do partido republicano discordaram do anúncio de Trump, o general Mattis demitiu-se de ministro da Defesa (o último de cinco generais a abandonar o governo de Washington), Israel ficou preocupado, assim como o Iraque, os aliados europeus dos EUA reagiram mal (sobretudo a França e o Reino Unido), etc. Passadas três semanas, porém, Trump teve que recuar – jamais reconhecendo que recuava, claro.

Agora a posição americana é manter os dois mil soldados no Síria enquanto não forem desmantelados os núcleos de cerca cinco mil terroristas que o EI ainda mantém na região – o que desmente a justificação inicial do presidente dos EUA: “já vencemos os terroristas, portanto vimos embora”. Washington diz atualmente que os soldados não sairão da Síria antes de receberem garantias da Turquia de que não atacará os curdos.

O presente Conselheiro de Segurança da Casa Branca, o “falcão” John Bolton, foi enviado à Turquia para explicar a Erdogan a nova posição americana e obter essas garantias; depois viajou Mike Pompeo, ministro dos Negócios Estrangeiros, e igualmente considerado um “falcão”, para sossegar os curdos e os ditadores do Egipto. Ora Erdogan não apenas se recusou a receber J. Bolton, como repetiu solenemente que iria atacar os curdos, que ele considera serem terroristas.

Este sarilho decorre de uma das mais graves decisões de Trump, tomadas sem ponderar as consequências nem ouvir os que supostamente estão perto dele para o aconselhar. Recorde-se que a Turquia é membro da NATO e possui as mais poderosas forças armadas da Aliança, depois das americanas. Como vai acabar esta trapalhada, ninguém sabe; mas é provável que não acabe bem.