João Rendeiro diz-se “injustiçado” e confirma: "Não tenciono regressar" a Portugal
29-09-2021 - 07:24
 • Renascença

O ex-banqueiro, condenado a penas de três, cinco e dez anos no âmbito do caso BPP, diz ter sido "humilhado por uma campanha populista de intoxicação da opinião pública" e defende que "a minha ausência é ato de legítima defesa".

João Rendeiro não vai voltar a Portugal para cumprir as penas de prisão a que foi condenado em três processos, relacionados com o caso BPP. A confirmação foi dada pelo próprio, numa publicação no seu blogue pessoal.

“No decurso dos processos em que fui acusado efetuei várias deslocações ao estrangeiro, tendo comunicado sempre o facto aos processos respetivos. De todas as vezes regressei a Portugal. Desta feita não tenciono regressar”, escreveu o antigo presidente do Banco Privado Português (BPP).

Rendeiro diz, ainda, sentir-se “injustiçado pela justiça do meu país”. “Tentarei que as instâncias internacionais avaliem o modo como tudo se passou em Portugal”, lê-se no mesmo comunicado.

“Vi-me humilhado por uma campanha populista de intoxicação da opinião pública e de pressão sobre a justiça, como se fosse daqueles que pretendem abusar das instâncias processuais para escaparem à justiça”, acrescentou.

O ex-banqueiro informou a justiça portuguesa de uma deslocação a Londres, mas, ao que tudo indica, terá abandonado solo britânico para um país terceiro, externo à União Europeia, que não terá acordo de extradição com Portugal.

Os advogados que representam o Banco Privado Português alertaram, na semana passada, o tribunal para o perigo de fuga de João Rendeiro

O antigo homem forte do BPP foi condenado, na terça-feira, a três anos e seis meses de prisão efetiva, por burla qualificada.

Também neste processo estavam acusados os ex-administradores Paulo Guichard e Salvador Fezas Vital (o único presente no tribunal). O primeiro foi condenado a três anos de prisão e o segundo a dois anos e seis meses de prisão.

Na origem deste julgamento está a queixa do embaixador jubilado Júlio Mascarenhas que, em 2008, investiu 250 mil euros em obrigações do BPP, poucos meses antes de ser público que a instituição liderada por João Rendeiro estava numa situação grave e ter pedido um aval do Estado de 750 milhões de euros.

O tribunal decidiu que os ex-gestores do BPP terão ainda de pagar 225 mil euros por danos patrimoniais e 10 mil euros por danos morais a Júlio Mascarenhas.

Em maio deste ano, o tribunal condenou João Rendeiro a 10 anos de prisão efetiva.

O colapso do BPP, banco vocacionado para a gestão de fortunas, aconteceu em 2010, já depois do caso BPN e antecedendo outros escândalos na banca portuguesa.

As condenações foram pelos crimes de fraude fiscal, abuso de confiança e branqueamento de capitais resultam de um processo extraído do primeiro megaprocesso de falsificação de documentos e falsidade informática.

Já anteriormente, em outro processo também relacionado com o BPP, Rendeiro tinha sido condenado a cinco anos e oito meses de prisão efetiva.