Cardeal francês julgado por alegado encobrimento de abusos
07-01-2019 - 12:17
 • Filipe d'Avillez com Reuters

O arcebispo de Lyon é acusado de não ter feito o suficiente para denunciar os abusos cometidos por um padre da sua diocese. O seu advogado acredita na absolvição e diz que “não se remedeia uma injustiça com outra”.

O Cardeal Philippe Barbarin começa a ser julgado esta segunda-feira por alegado encobrimento de um padre da sua diocese, que abusou sexualmente de menores. Se for condenado enfrenta uma pena de até três anos de prisão e multa até 50 mil euros.

O padre Preynat abusou de menores durante as décadas de 80 e 90, vários anos antes de Barbarin ser nomeado para a diocese de Lyon. Admitiu os abusos e vai ser julgado ainda este ano.

O cardeal diz que só tomou conhecimento do passado do padre Preynat em 2007, cinco anos depois de entrar para a diocese, e que acabou por abrir uma investigação canónica porque a investigação judicial estava a ser muito lenta. O sacerdote acabaria por ser removido do ministério em 2015.

A ação de Barbarin já tinha sido investigada pelas autoridades, que decidiram não prosseguir com qualquer acusação, mas um grupo que representa vítimas de abusos invocou uma lei para obrigar o cardeal a ir também a julgamento. O seu advogado está confiante na absolvição. “Ele é acusado de encobrir o Preynat, mas na verdade foi ele que desencadeou todo o processo” que levou o padre abusador à justiça”, diz Jean-Felix Luciani. “Não se remedeia uma injustiça com outra”.

Barbarin reconhece que nem sempre lidou corretamente com as situações com que se deparou, mas nega que tenha encoberto quem quer que seja. Diz que tomou medidas para suspender os padres e chamar imediatamente as autoridades quando soube de alegações de abusos ocorridos recentemente, em 2006 e 2014, mas que quando enfrentado com abusos cometidos vários anos antes, como era o caso de Preynat, não agiu logo. O cardeal diz que bateu a várias portas, para se aconselhar, mas que não recebeu conselhos satisfatórios.

Este é mais um caso de abusos, ou encobrimento, envolvendo uma alta figura da Igreja Católica, e surge a pouco mais de um mês da realização de uma cimeira de presidentes de Conferências Episcopais que vai decorrer no Vaticano, precisamente para analisar a resposta da Igreja a estas crise de abusos que tem abalado a Igreja ao longo das últimas décadas e que em 2018 assumiu novas proporções, com o escândalo do ex-cardeal McCarrick, nos Estados Unidos e o julgamento do cardeal Pell, na Austrália.