"A cerveja aqui é cara... mas já foram quase 100”: os bastidores da claque da seleção no Euro 2024
22-06-2024 - 08:50
 • Eduardo Soares da Silva

Não há um grupo de oficial de adeptos, mas milhares de portugueses viajaram para a Alemanha para acompanhar o Euro. Como se organizam? Está a crescer o apoio à seleção nacional?

*veja os resultados, as contas dos grupos e as estatísticas dos jogadores

Uma carteira a esvaziar, muitas cervejas bebidas e tentativas falhadas de cânticos originais. Assim se passam os dias dos milhares de portugueses que viajaram até à Alemanha para acompanhar a seleção nacional no Euro 2024. Sem um grupo oficial, são eles que compõem a claque de apoio a Portugal.

Rui Abreu é um deles. Viajou do norte do país até à Alemanha e ficará até ao final da fase de grupos. Dependendo de "como se portar a seleção", pondera voltar para as fases mais adiantadas.

A Federação Portuguesa de Futebol estima que cerca de 15 mil portugueses estiveram em Leipzig no último sábado para acompanhar a estreia frente à Chéquia.

Cerca de 10 mil bilhetes foram vendidos pela plataforma "Portugal+", o clube oficial de fãs das seleções. A plataforma tem uma equipa de apoio na Alemanha, que, segundo Rui Abreu, “organiza algumas iniciativas para juntar os adeptos como as ‘fan zones’ e os cortejos”.

A plataforma oficial da FPF organiza a logística. A organização do apoio está à responsabilidade dos adeptos. Há movimentos espontâneos que tentam organizar cânticos, quase todos sem sucesso.

“Acaba por ser engraçado. Muita gente nos grupos tenta apresentar músicas para se cantar, mas são as mais batidas que acabam por pegar, como a do ‘pouco importa, pouco importa’. Há malta a fazer músicas engraçadas, só que somos 15 mil pessoas que não têm o mesmo 'background'. As outras seleções estão mais unidas, em Portugal é mais difícil implementar algo diferente”, considera.

Existem claques oficiais, como os escoceses do “Tartan Army” e os húngaros da “Carpathian Brigade”. Ainda que sem claques oficiais reconhecidas, países como Inglaterra, Países Baixos e França levam milhares a todas as provas internacionais.

Para Rui, há um contraste evidente com Portugal. Não há tradição de apoio à seleção: “Basta ver os jogos em Portugal da nossa seleção em que as bancadas passam muito tempo silenciosas. Tirando o ‘Portugal, Portugal’ ou cantar por Cristiano Ronaldo, quase não cantam. Batem palmas aos bombos..."

"Os outros países têm uma cultura de apoio ao seu clube que depois se transporta para as seleções. Em Portugal, tirando as claques, quase ninguém canta. Vais a outros campeonatos e vês estádios inteiros a cantar. É cultural. Felizmente, há quem esteja a tentar organizar apoio para mudar isso”, justifica.

Com maior ou menor anarquia, não tem faltado apoio à seleção nacional. E também não falta animação aos adeptos. Em Leipzig, Rui Abreu foi vendo “a carteira a ficar fina” ao longo do dia. “A cerveja aqui é cara”. Não o impediu de ter bebido "quase 100 cervejas" desde que chegou à Alemanha, há menos de uma semana.

“Fizemos turismo pela manhã, andamos pelas fan zones, vimos um concerto de uma banda checa de covers dos AC/DC. Esteve sol o dia todo, um calor medonho, e depois choveu torrencialmente durante o cortejo. Um vendaval, mas ainda espevitou mais as pessoas para o jogo”, recorda.

Está a crescer o apoio à seleção nacional?

O apoio em Leipzig pode ter surpreendido. Milhares de portugueses entraram cedo para o estádio e cantaram pela seleção muito antes do pontapé de saída.

João Félix, António Silva, Rui Patrício e João Neves foram alguns dos jogadores que, à chegada ao estádio, estiveram vários minutos no relvado a assistir ao ambiente que vinha das bancadas. No entanto, há quem não se deixe impressionar.

“Sinceramente, esperava mais gente. A Alemanha também tem uma forte comunidade portuguesa e até pela proximidade com o Luxemburgo. No jogo com a Chéquia, notava-se que eles estavam em maioria. Achei que teríamos mais gente”, diz Rui.

Sem revelar dados, a FPF reconhece que há mais portugueses na Alemanha do que no Euro 2020, um torneio itinerante pela Europa e ainda sob restrições da pandemia, e do que no Mundial 2022, no distante Qatar.

A Federação não compara a 2016 - torneio com forte apoio em França -, porque não tem esses dados, uma vez que a plataforma Portugal+ foi criada posteriormente.

Ainda assim, a FPF garante que o entusiasmo em acompanhar a seleção não se esgota no Europeu e revela que já foram vendidos cerca de 40% dos bilhetes para os jogos da Liga das Nações em setembro, e 25% para os jogo de novembro.

Este sábado, Portugal enfrenta a Turquia em Dortmund. De acordo com dados oficiais, vivem mais de 1,3 milhões de turcos na Alemanha e há quase 3 milhões de descendentes. Isso deverá ter repercussões no jogo desta tarde.

“É altamente expectável que os turcos sejam três vezes mais do que nós. Vamos ser claramente abafados”, espera Rui, entre risos.

O jogo arranca às 17h00 e terá relato na Renascença em direto de Dortmund, do jornalista Pedro Castro Alves. Poderá acompanhar o jogo, ao minuto, em rr.pt.