Vinho com arte no rótulo inspira livro
09-02-2018 - 18:05
 • Maria João Costa

“Esporão – colheita e artistas 1985-2015” é o nome de um livro que reúne o trabalho que 32 artistas nacionais e internacionais criaram durante os últimos anos para 30 colheitas de vinhos do Alentejo com a marca Esporão.

“Corremos sempre o risco de inovar”, afirma o empresário José Roquette, a alma da Herdade do Esporão, a empresa que há 30 anos investe na arte de fazer vinho e na arte dos criadores que assinam os rótulos que dão rosto ao vinho. A cada colheita, uma nova “identidade” com que a marca se apresenta ao público, diz o presidente do Esporão.

Para Roquette, “a mudança de um rótulo é uma operação complexa que implica ser bem pensada”. “Nesta incrível aventura que é a vitivinicultura cada ano é um ano diferente”, explica, mas para o Esporão não é só por uma questão climática. Cada ano, desde 1985 que a aventura se traduz também no convite a um artista para desenvolver os rótulos das várias colheitas que a terra alentejana dá a beber.

O primeiro desafio foi a Dórdio Gomes, um artista nascido no Alentejo. A história desta relação estreita entre a arte e o vinho está agora reunida no livro “Esporão - Colheita e Artistas 1985-2015”, que a casa vitivinícola acaba de lançar.

Para contar a história do vinho que leva a arte à mesa, o livro apresenta uma sumula dos principais acontecimentos de cada ano para o qual pediram a um artista para criar um rótulo.

No ano em que Portugal entrou para a CEE, em 1986, foi a vez do mestre Manuel Cargaleiro desenhar com a sua identidade gráfica o rotulo do Esporão, quer para as reservas de branco, quer para as de tinto.

Página após página, no livro que gerou também uma exposição com os trabalhos de cada artista e que esteve em Lisboa na Livraria Ler Devagar, encontramos os principais artistas portugueses. De Júlio Resende a Júlio Pomar, de Graça Morais a Lourdes Castro passando por Alberto Carneiro ou Joana Vasconcelos, Ana Jotta ou José Pedro Croft.

Na apresentação do livro, João Roquette, que segue os passos do pai, explica à Renascença que trabalham para que “a identidade única de cada vinho que fazemos a cada ano esteja também no rótulo do vinho através de uma obra feita por um artista”.

Parte desta constelação de estrelas da arte reuniu-se no lançamento do livro “Esporão – Colheita e Artistas 1985-2015”. Na mesma sala estiveram criadores como Rui Sanches, Julião Sarmento, Guilherme Parente, João Queiroz ou José de Guimarães.

Este último, com o livro debaixo do braço, diz que este projeto é “uma atitude de uma empresa para com a arte contemporânea e os artistas e um processo democrático da arte chegar a um sem número de pessoas”.

Guimarães que nunca tinha feito um rótulo para um vinho recorda o ano de 1992 como o momento em que criou “formas bastante visuais com um impacto grande” para serem o rosto da colheita daquele ano. Na sua coleção guarda ainda uma das garrafas.

Quem tem pena de já não ter mais garrafas é Julião Sarmento, o artista que contou à Renascença que pediu para ser pago em garrafas pelo trabalho que fez em 1999.

“À semelhança do Château Mouton Rothschild, o Esporão quis pedir a artistas para ilustrarem os rótulos”, explica Sarmento que meteu “mãos à obra” e desenhou três rótulos com “uma mulher com uvas na mão”.

Contente com a encomenda de um rótulo ficou também o artista João Queiroz, que foi convidado em 2014. “Fazer os rótulos para o Esporão é uma coisa interessante e importante” diz-nos no lançamento do livro o artista que se inspirou “nas vinhas e na natureza” e que criou “uma atmosfera que fosse condizente com o vinho que ia na garrafa”.

Nas garrafas, explica José Roquette, não vai só a arte nos rótulos. No vinho vai também “uma parte das vidas e forma de estar” de quem apanha as uvas. O empresário, que hoje centra o seu discurso nas preocupações com as alterações climáticas e a forma como elas estão a condicionar a vida do Alentejo, diz que nunca perdem de vista a essência do vinho.

Neste percurso da história da empresa que também produz azeite, há um conjunto de artistas, alguns deles, diz João Roquette, que “não eram conhecidos na altura”, mas que foram artistas com que o Esporão se identificou. Exemplo disso poderá ser a dupla de gémeos Gilberto e Gabriel Colaço” que criaram em 2005 os rótulos com elementos que para eles “estão relacionados com o ambiente do vinho”.

Mais consagrado é outro dos artistas que guarda algumas garrafas com o rótulo que desenhou. Rui Sanches que trabalhou a colheita do ano do início da “Primavera Árabe”, em 2010, lembra-se muito bem da obra que criou. “É um rótulo em que tentei pôr, no vinho branco como no tinto, as qualidades que nós associamos a essas duas qualidades do vinho e as qualidades da terra alentejana com a sua força telúrica e com as suas cores e com o seu ambiente”, descreve Sanches, que se sente “muito bem acompanhado” pelos colegas que ao longo dos últimos anos assinaram os rótulos.

Este projeto, que já tem 30 anos, continua a olhar para o futuro à medida que surgem novas colheitas. João Roquette não quer avançar nomes, mas diz que há muitos artistas que ainda podem ser convidados. O próximo será o fotógrafo Duarte Belo, que irá assinar a nova identidade do Esporão.

Quanto ao álbum com o trabalho dos últimos anos está à venda nas livrarias Ler Devagar e Ferin, em Lisboa; na Livraria do Mercado, em Óbidos; bem como no Enoturismo da Herdade do Esporão.