Caos nas urgências do Tâmega e Sousa. "Parece que estamos a jogar tetris, não sabemos onde pôr os doentes"
04-11-2020 - 16:26
 • Pedro Mesquita com redação

Enfermeira neste hospital que engloba unidades de Penafiel e Amarante, agora em casa com Covid-19, descreve um cenário caótico nas urgências e exaustão das equipas. "Neste momento é passar mais de meio turno com as lágrimas nos olhos e sem saber quais são as nossas prioridades de cuidados", revela.

"Parece que estamos a jogar tetris, não sabemos onde pôr os doentes". É assim que a enfermeira Patrícia Marques descreve o cenário dos últimos dias no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa. Esta é uma das instituições mais pressionadas pela pandemia em todo o país - com cerca de 180 doentes Covid-19 internados nas unidades de Penafiel e Amarante, regista perto de 10% dos internamentos a nível nacional.

Esta profissional de saúde, hoje em quarentena por ter testado positivo à Covid-19, tenta descrever à Renascença a exaustão que tomou toda a equipa nos últimos tempos.

"Neste momento é passar mais de meio turno com as lágrimas nos olhos e sem saber quais são as nossas prioridades de cuidados. Ou não saber a qual deles dar alento primeiro", explica.

"E é isso que é estar exausto, é não ter tempo para as necessidades básicas pessoais, quanto mais para dar à nossa profissão aquilo que ela nos pede".

Dezenas de doentes retidos no serviço de urgência por falta de camas

Patrícia Marques trabalha no serviço de urgência deste hospital. Antes de ir para casa, testemunhava uma afluência "absurda" de doentes no serviço.

"Os números que temos são de 600 episódios de urgência em média diária, há dias com mais e outros com menos. É uma coisa absurda. E em média 40-50 internados por dia no serviço por não haver camas para eles nos outros serviços. Ficam na urgência retidos, à espera de uma vaga noutro sítio", conta.

Questionada sobre o nível de risco a que os profissionais estão expostos, Patrícia Marques assume que, nestas condições, o risco é alto. "Chega a um momento em que nenhum ser humano é capaz de garantir" que cumpre todas as normas do protocolo.

"Estamos 6, 7 horas seguidas com o mesmo fato, cheios de doentes, toda a gente chama por nós. Nós não nos podemos responsabilizar por ao fim de cinco horas irmos sem querer coçar o nariz. É uma coisa instintiva e estamos tão cansados, tão sedentos por um copo de água, porque transpira-se imenso, é difícil trabalhar naquelas condições".

Por isso, Patrícia considera que o risco de contágio no local de trabalho "é muito grande". "É uma pressão enorme", revela a enfermeira.

Nunca, até hoje, os numero da Covid-19 tinham sido tão elevados num só dia: mais 7.497 pessoas infetadas.

Há, contudo uma nota importante: quase metade desses dados, 3.570 casos, correspondem a dias anteriores, devido a um "atraso no reporte laboratorial".