O presidente do Eurogrupo
04-12-2017 - 17:22
 • Francisco Sarsfield Cabral

Com a eleição de Mário Centeno, Portugal ganhou alguma influência adicional no debate sobre a reforma do euro.

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Centeno não venceu à primeira volta, mas ganhou a presidência do Eurogrupo. Há poucos meses ninguém acreditava que tal acontecesse. Essa descrença tinha muito a ver, primeiro, com o facto de, em democracia, Portugal nunca ter conseguido equilibrar as contas do Estado. Com uma única excepção: 1913, era ministro das Finanças Afonso Costa. A I Guerra Mundial acabaria com esse momentâneo êxito.

Já no euro, Portugal foi o primeiro país a violar as regras orçamentais da moeda única. Teve, depois, de recorrer a um programa de resgate, com a vinda da “troika” e de uma austeridade nem sempre racional. Portugal tem uma das mais altas dívidas públicas do mundo. E só em Junho passado saiu do chamado procedimento por défice excessivo.

Nessa altura, há meio ano, poucos julgariam possível que um ministro das Finanças português pudesse presidir ao Eurogrupo. É que o apoio ao governo socialista de dois partidos de extrema-esquerda nada amigos do euro e da UE iria, pensavam muitos (entre os quais me incluo), levar o país a falhar as metas europeias.

Ora António Costa e Mário Centeno, afinal, cumpriram essas metas. De maneira um tanto ínvia, graças a enormes cativações de despesas públicas e a um fraco investimento do Estado (com tudo o que isso representou de austeridade para os utentes de numerosos serviços públicos), mas cumpriram. Assim, contra as expectativas relativamente recentes, Portugal conquistou a confiança dos investidores na sua dívida pública (vejam-se os juros), bem como a confiança das autoridades comunitárias e dos seus parceiros no euro.

Significa a eleição de Centeno uma mudança de orientação quanto à gestão do euro? Será esperar demais. As objecções alemãs, não deste ou daquele partido da RFA, mas da opinião pública germânica, a formar uma união monetária que seja também económica e também uma união bancária completa, não serão facilmente ultrapassadas. Mas é sempre útil que Portugal tenha ganho alguma influência no debate que se vai seguir (espera-se!) sobre a reforma do euro.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus