​A destruição da Síria
22-02-2018 - 06:24

Putin meteu-se no vespeiro sírio e agora não sabe como sair dele.

O ataque do ditador sírio Bashar al-Assad a uma localidade não longe de Damasco, Ghouta oriental, onde se encontram grupos rebeldes, já é considerado o pior massacre deste século. Morreram centenas de civis, incluindo mulheres e crianças, foram bombardeados hospitais e escolas, além de inúmeras habitações. Estas operações bárbaras, apoiadas militarmente pelo Irão e pela Rússia, não são desgraçadamente novidade. Há mais de sete anos que Assad martiriza o seu próprio povo, às vezes com armas químicas. Obama avisou-o de que, se utilizasse essas armas, os EUA reagiriam. Ora Assad usou-as mesmo e os EUA olharam para o lado. Um erro fatal.

Assad vai provavelmente manter-se no poder, graças ao apoio não só do Irão como da Rússia. Putin viu na Síria e na passividade americana uma oportunidade para se afirmar na cena internacional, algo importante num país que já foi uma superpotência. Em Dezembro Putin considerou “basicamente cumprida” a intervenção russa na Síria. Depois, Putin armou-se em mediador e organizou uma conferência de paz, que redundou num completo fracasso - a quase totalidade dos grupos que combatem Assad nem sequer compareceu. Entretanto a situação complicou-se na região, com a tensão a aumentar entre Israel e o Irão e com a Turquia a atacar os curdos no Norte da Síria, uma batalha na qual, como aqui previ, os militares turcos estão a enfrentar grandes dificuldades.

Neste quadro, os militares russos não podem abandonar já a Síria, tirando o tapete ao seu protegido Assad. Seria o descrédito de Moscovo no mundo muçulmano. O problema é que o esforço militar russo na Síria tem elevados custos financeiros e também humanos. Dezenas de soldados russos terão sido mortos na Síria durante as últimas semanas, o que desagrada profundamente à população da Rússia. Em suma, Putin meteu-se num vespeiro, do qual agora não sabe como sair. Quanto a Assad, ficará a mandar e a massacrar uma população cada vez mais pequena, devido aos bombardeamentos e à fuga em larga escala para outros países.