O ex-Presidente Lula da Silva tomou esta quinta-feira, em Brasília, posse como ministro da Casa Civil, entre protestos pró e contra o Governo um pouco por todo o país.
A Presidente Dilma Rousseff discursou na tomada de posse contra as escutas "ilegais", segundo a própria, que revelaram na quarta-feira a conversa telefónica entre os dois, declarando que a presença de Lula no seu governo só mostra que ele tem "a grandeza dos estadistas e a humildade dos verdadeiros líderes".
Interrompida mais do que uma vez pelas palavras de ordem vindas do exterior do Palácio do Planalto, em Brasília - "o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!" - Dilma mostrou o badalado termo de posse, documento que sela a ida de Lula para o governo, garantindo a total legalidade de todo o processo.
"Repudio total e integralmente todas as versões contra esse facto – esse documento foi distribuído para toda a imprensa. Estaremos avaliando as condições deste grampo", afirmou, referindo-se às notícias veiculadas na quarta-feira na imprensa brasileira sobre a conversa telefónica com Lula, nomeadamente as que interpretam esta remodelação como uma tentativa do Partido dos Trabalhadores (PT) de proteger Lula da justiça.
"Querermos saber quem autorizou [a divulgação das escutas] quando não tinha nada que possa levantar qualquer suspeita sobre o seu carácter republicano", declarou, falando de Lula da Silva. A "interpretação desvirtuada" dessas escutas, para Dilma, gera "processos equívocos".
"Grampos ilegais não favorecem a democracia neste país. Isto não me fará recuar perante a exigência de apurar os factos acontecidos ontem", sublinhou ainda a Presidente. "Convulsionar a sociedade brasileira assim viola os direitos dos cidadãos e abre precedentes gravíssimos. Os golpes começam assim", apontou.
Visivelmente enervada, Dilma Rousseff terminou declarando-se "optimista": "Acredito na justiça no nosso pais", rematou. Durante todo o discurso, que suscitou reacções quentes da plateia e dos manifestantes do lado de fora do edifício, Lula da Silva manteve-se sentado em silêncio.
A passagem de Lula da Silva para o governo para este cargo de "super-ministro" permite-lhe escapar ao juiz responsável pela operação "Lava Jato", Sérgio Moro, em Curitiba. O ex-Presidente "petista", na qualidade de ministro, passa a beneficiar de “foro privilegiado”: terá de responder às acusações, mas perante o Supremo Tribunal Federal. Nesse tribunal, oito dos 11 membros são nomeados pelos governos de Lula e Dilma.