População cresce no mundo, mas na Europa está a encolher
15-11-2022 - 07:58
 • Fátima Casanova , Olímpia Mairos

O presidente da Associação Portuguesa de Demografia alerta para o facto de sermos uma sociedade que não cresce, com uma população envelhecida, que vai obrigar a uma nova organização social.

As Nações Unidas estimam que, esta terça-feira, o planeta chegue aos oito mil milhões de habitantes. A população duplicou nos últimos 48 anos e vai continuar a crescer, embora a um ritmo mais lento.

Até à década de 60 do século passado a população cresceu a um ritmo de 2%. Em 2020 a taxa de crescimento já foi inferior a 1%.

A China é o país com mais população, logo seguido da India, mas pelas contas das Nações Unidas, estas posições vão inverter-se no ano 2050.

Europa está a envelhecer

Os países com maior crescimento populacional são os menos desenvolvidos como resultado de uma natalidade bastante mais elevada do que a mortalidade. Entre eles estão Nigéria, República do Congo e Etiópia. Já a Europa está a encolher e assim vai continuar. O mesmo acontece em Portugal, onde número de óbitos supera o de nascimentos.

À Renascença, presidente da Associação Portuguesa de Demografia, diz que o saldo migratório não chega para compensar. “Não, não vai ser suficiente de todo para inverter esse déficit, para anular esse déficit e, portanto, nós vamos conhecer inevitavelmente um decréscimo de população em Portugal garantidamente nas próximas décadas, sem estarmos verdadeiramente preparados para esse facto”, diz.

No entender de Paulo Machado, este facto de sermos uma sociedade que não cresce, com uma população envelhecida vai obrigar a uma nova organização social.

“Do ponto de vista da relação social que essas pessoas precisam de ter com os mais novos, porque não precisam apenas que existam transferências financeiras para eles, precisam de outras coisas, precisam de estar junto das pessoas mais novas, precisam de ser acompanhados, precisam de ajudas concretas, precisam de muita sustentação no seu quotidiano. E nós não temos gente nova para isso e, portanto, esse é um problema sério”, alerta.

Vamos ser 11 milhões

Para este responsável existe ainda um outra questão séria, que é “o problema das condições que estamos a oferecer àqueles que estariam em idade de procriar. E essas condições não estão a aparecer de uma forma absolutamente clara”.

Portugal, assim como a Europa vai perdendo habitantes. Mas ao nível mundial e até final do século, o planeta ainda vai acolher mais pessoas. “Seremos até ao final do século qualquer coisa em redor do número 11 mil milhões. A partir daí é que, de facto, as projeções apontam para decréscimos, o que significa que se vão exigir respostas que ainda não temos.”

Segundo Paulo Machado, “agora já não se coloca apenas a questão dos recursos, como se colocava no século XVIII”.

“Hoje, a questão dos alimentos nem sequer é a questão mais crítica, porque a capacidade de produção existe. O problema são, como, aliás, se está a verificar, infelizmente, nos dias de hoje, os problemas da distribuição desses alimentos e outros problemas, nomeadamente de ordem energética a que juntamos crises climáticas cujas consequências também não conhecemos muito bem”, conclui.

Segundo as Nações Unidas, o mundo terá cerca de 9,7 mil milhões de pessoas até 2050 e chegará a 10,4 mil milhões durante a década de 2080, permanecendo nesse nível, pelo menos, até 2100.