Falta informação sobre África
01-02-2023 - 06:30
 • Francisco Sarsfield Cabral

Nós, portugueses, conhecemos mal ou mesmo muito mal o que se passa na maior parte de África. Para um país que pretende ser um traço de união entre a África e a Europa, uma informação mais alargada e menos pontual sobre o que acontece pelo menos nas ex-colónias deveria ser um imperativo da política externa portuguesa.

O Papa Francisco está em África. Primeiro na República Democrática do Congo (antigo Zaire) e depois no Sudão do Sul, país independente desde apenas 2011. Como os jornalistas da Renascença Aura Miguel e Henrique Cunha explicaram, estes dois países africanos vivem dilacerados pela fome, pelos conflitos tribais e étnicos, pela guerrilha, pelo terrorismo, pela guerra civil, por milhões de deslocados que fogem da violência, etc.

O Papa Francisco visita estes países para apelar à paz e à concórdia, sabendo que dificilmente as coisas mudarão ali nos tempos mais próximos. Esta vista papal também é uma manifestação de uma Igreja “em saída”, em que Francisco tanto se tem empenhado. Na visita ao Sudão do Sul, com o Papa estarão o arcebispo anglicano de Cantuária e um pastor da Igreja da Escócia - trata-se, portanto, de uma jornada ecuménica de paz.

Nós, portugueses conhecemos mal ou mesmo muito mal o que acontece na maior parte de África, apesar de entre nós viverem muitos portugueses que passaram anos a trabalhar nas ex-colónias. Admito que uma parte desses “retornados” não queira reviver o trauma da precipitada descolonização de 1975 e por isso não se interesse em receber informações sobre África. Mas certamente muitos outros gostariam de ser mais informados.

A falta de informação em Portugal sobre África é, em grande parte, uma consequência do aperto financeiro das empresas proprietárias dos “media e que limita a colocação de correspondentes em vários países do mundo. Mas, para um país como Portugal, que pretende ser um traço de união entre a África e a Europa, pelo menos uma informação mais alargada e menos pontual sobre o que se passa nas ex-colónias – Angola, Moçambique e Guiné-Bissau – deveria ser um imperativo da política externa portuguesa. O que implicaria algum apoio do Estado ao envio de correspondentes para esses países, ressalvando, obviamente, a liberdade jornalística.

Impressiona, por exemplo, só raramente chegarem até nós informações sobre a dramática situação em Cabo Delgado e no Norte de Moçambique, onde impera o radicalismo islâmico e se multiplicam as vítimas inocentes. Com frequência o pouco que sabemos tem como fonte jornalistas e agências de outros países. O mesmo se diga das perturbações político-militares que afetam a vida na Guiné-Bissau. De Angola acompanhámos as últimas eleições, mas, depois disso, predomina o deserto informativo. Não é uma situação aceitável.