Elisabete Jacinto assume que está na altura de parar e pensar, uma vez conquistado o grande objetivo na carreira, a vitória no África Eco Race.
A piloto portuguesa, primeira mulher a vencer a prova de todo-o-terreno de camiões, esteve esta quinta-feira na Manhã da Renascença e admitiu a possibilidade de não continuar ou, pelo menos, de o fazer com reservas.
"O objetivo está alcançado, foi por isto que lutei estes anos todos. Agora, estou numa fase de pensar muito bem. Gosto imenso desta modalidade. Se me perguntarem se quero continuar, digo já que sim, mas está na altura de fazer uma pausa, repensar tudo e seguir com as ideias claras. É uma modalidade extremamente difícil, lidamos com muitos dissabores e obstáculos. Se tivesse só de ser piloto e pouco mais, seria maravilhoso. O trabalho que eu faço para além disso é excessivo", admitiu.
A rede é voltar a ser professora de Geografia: "O desporto não dura a vida inteira. Gosto de dar aulas, é uma profissão que me realiza. Tento todos os anos criar condições para poder voltar se for necessário."
De qualquer modo, Elisabete Jacinto sublinhou que o Dakar não é uma prova que a cative: "O Dakar está fora de questão. Não é uma prova interessante. Não vale a pena voltar. Em África, temos a solidão do deserto, a aventura, a superação. Na América do Sul, há gente em todo o lado. A única coisa que o África Eco Race não tem é o prestígio do Dakar."
"Pequenos berbicachos" e os homens irritados
Quanto ao África Eco Race, Elisabete Jacinto garantiu que a corrida "de um modo geral correu muito bem", mas recordou alguns "pequenos berbicachos" que foram, ainda assim, resolvidos "muito rapidamente".
"Um dos nossos medos era ter furos. Só tivemos um furo, o que foi muito bom. Em Marrocos, ficámos pendurados na crista de uma duna. Tivemos um outro momento daqueles em que engolimos em seco. Foi ao passar uma duna, só se via o céu pelo vidro, nada do que estava à nossa frente. Quando dobrámos a duna percebemos tínhamos à frente um tufo de erva enorme, que é como uma rocha dura, e bati em cheio no tufo. Não conseguia ir para a frente nem para trás. Um dos meus adversários deu-me uma mãozinha", contou a piloto portuguesa, de 54 anos.
Sendo a primeira mulher a ganhar o África Eco Race, Elisabete Jacinto testemunhou as reações de alguns rivais, homens que "estão convencidos que este é o desporto deles e que as mulheres, quando aparecem, é para ficarem lá atrás".
"Há grandes equipas com orçamentos muito altos e, de repente, têm uma mulher que lhes dá pó e isso irrita-os solenemente. Mas se houvesse só mulheres e de repente aparecesse uma novata e ficasse à frente delas, também ficariam irritadas", referiu.