Pode uma superfície estar a 1.400 graus de um lado e com apenas 11,5 centímetros de distância arrefecer para os 30 graus? Sim, e é isso que permite que a sonda Parker possa ser enviada para estudar o sol. É este escudo com capacidades térmicas extraordinárias que protegerá a sonda e permitirá estar mais perto do que nunca do sol.
O aparelho partiu da base de Cabo Canaveral, na Florida, nos Estados Unidos, este domingo, às 3h31, hora local (8h31 em Lisboa), depois de o lançamento ter sido adiado, no sábado, por problemas técnicos.
A sonda irá navegar pela atmosfera do Sol e, segundo a NASA, vai aproximar-se da superfície do "astro-rei" como nunca antes uma sonda o fez, permitindo obter as observações mais próximas de uma estrela.
O astrofísico Rui Agostinho, professor do departamento de física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e diretor do Observatório Astronómico de Lisboa, explica que o sonho “de enviar uma sonda para estudar o sol já é antigo, mas só agora é que foi possível ter a tecnologia para a que a sonda esteja à sombra deste escudo que a arrefece”.
A sonda Parker, enviada pela NASA, que estará em órbitra sete anos vai estudar essencialmente “o processo de ganho de velocidade das partículas, e quem é que provoca a aceleração do vento solar, porque ao início elas não têm uma velocidade tão elevada”.
Rui Agostinho diz que esta missão quer também perceber porque é que no sol “existe um aumento de temperatura tão grande com um salto de seis mil para um milhão de graus centígrados” em apenas dois mil quilómetros de distância.
O professor do departamento de física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e diretor do Observatório Astronómico de Lisboa explica que só agora é possível a humanidade conseguir atingir este objetivo.
“A aproximação do sol vai aumentar a temperatura da sonda e só agora é que há tecnologia para fazer um escudo térmico à frente que tem 11,5 centímetros de espessura, e esse escudo estará a 1400 graus quando virado para o sol e do outro lado à temperatura ambiente de uma casa, 30 graus”, explica.
O especialista garante que este conhecimento vai contribuir para sabermos melhor como funciona a dinâmica mais externa do sol.
“O sol tem um ciclo de 11 anos na sua luminosidade que é vista na quantidade de manchas que tem à superfície”, explica Rui Agostinho.
A sonda tem o nome do astrofísico norte-americano Eugene Parker, de 91 anos, que apresentou, na década de 50, uma série de conceitos para explicar como as estrelas, incluindo o Sol, libertam energia. Chamou vento solar à 'cascata' de energia do Sol e descreveu todo um "sistema complexo" de plasmas, campos magnéticos e partículas energéticas associado ao conceito de vento solar.
A NASA lembra que Parker teorizou uma explicação para a temperatura extremamente elevada da coroa solar, que, ao contrário do que seria expectável, é mais quente do que a superfície do Sol apesar de ser a camada mais externa da atmosfera.