Vítor Cotovio destaca o papel das lideranças na prevenção da saúde mental em situações de crise
28-11-2022 - 13:15
 • Marta Pedreira Mixão

O psiquiatra Vítor Cotovio explicou que as necessidades psicológicas básicas, em situação de crise, podem ser ameaçadas.

Na sua intervenção durante o painel “Os desafios na promoção de saúde mental”, na Conferência "A Saúde Mental no Pós-Pandemia", o psiquiatra e diretor clínico da Casa de Saúde do Telhal, Vítor Cotovio, promoveu a importância das lideranças na prevenção das questões da saúde mental.

“A forma como nos olhamos para aquilo que é uma crise, também é determinante na forma como as coisas podem evoluir", afirmou, aludindo aos "caracteres chineses da crise" que sugerem que "uma crise é também uma oportunidade”.

“Quando vivemos uma crise estamos sujeitos a 'três tripes mais um'. No sentido lato, uma crise mobiliza algumas coisas básicas de resposta e que são atentatórias das nossas necessidades psicológicas básicas que são iguais para todos – ser reconhecido, pertencer, ser gostado, ser valorizado, não ser injustiçado. E estas necessidades psicológicas básicas, em situação de crise, podem ser ameaçadas", explica.

Um dos tripés, explica, é composto pelo medo, ansiedade e angústia.

O medo, segundo descreve, é a resposta emocional e fisiológica a uma ameaça real ou percecionada, mas que é iminente. Por sua vez, a ansiedade é mais a apreensão pela antecipação de uma ameaça futura, enquanto a angústia é a ameaça que resulta do risco de vazio, a perda de sentido.

Perante esta ameaça, convém que as lideranças tenham isto em conta para criarem fatores preventivos e catalisadores de uma boa saúde mental dentro de uma organização.

Vítor Cotovio refere que, muitas vezes, é utilizada erradamente a expressão "estamos todos no mesmo barco", justificando que, na verdade, "estamos todos na mesma tempestade", o barco - que interpreta como as ferramentas das quais dispomos para dar resposta ou 'fazer frente' à tempestade - varia de pessoa para pessoa. Assim, outro tripé está relacionado com “o que resulta da tempestade”, ou seja, a ameaça e a resposta à mesma através das ferramentas das quais dispomos.

Outro tripé, continua, está relacionado com a transição do sofrimento psicológico para a doença mental, que assenta em três conceitos: a persistência dos sintomas, a intensidade dos sintomas e disfuncionalidade daí resultante e que acontece dentro desse sofrimento.

O último tripé, ao qual se refere como “mais um”, assenta na ligação entre a saúde mental, desempenho e liderança das organizações, que devem promover um balanço entre a vida profissional e a vida pessoal.

Fazendo referência ao conceito de Organizações Autentizóticas, desenvolvido por Kets de Vries, o psiquiatra identificou a importância de empresas mais “empáticas” com os colaboradores.

É importante, explica Vitor Cotovio, perceber como “é que se faz este equilíbrio [da vida familiar e trabalho], no exercício das lideranças para que a saúde mental e o bem-estar dos colaboradores seja o mais possível de garantir e o adoecer o mais possível de prevenir e evitar”.

Para o psiquiatra não basta promover estas ideias. “A exemplaridade não é só dar o exemplo”, é também a consciência do seu impacto e a responsabilidade que advém dessa noção e apela, por isso, a uma liderança assente na empatia, que crie confiança e que capte sinais para ir ao encontro das pessoas.