Quando a cidade do Porto descer à zona histórica para celebrar o São João, há uma novidade: 79 câmaras de videovigilância observam todos os movimentos nas ruas desde a zona do Marquês até à Ribeira.
Para Adriano Monteiro, proprietário de uma relojoaria na Rua Trindade Coelho, entre as Flores e o Largo dos Loios, é uma boa notícia.
"Aqui há uns anos fui assaltado, abriram-se um buraco na parede", diz, enquanto aponta para o canto por onde os ladrões lhe entraram no pequeno estabelecimento.
Aos 88 anos, Adriano prefere continuar a fazer as contas em escudos: "Roubaram-me 40 contos da caixa registadora, mais cinco mil contos em relógios", recorda este empresário que lamenta o facto de "não haver alarmes na loja... não estava prevenido", sorri resignado.
Por isso, a videovigilância que cobre todo o centro histórico até à frente do rio Douro deixa-o "muito contente... e todos os comerciantes daqui também estão, de certeza".
Uns metros acima, já na Rua dos Clérigos, Miguel Aleixo tem um café que convive paredes meias com a zona das Galerias de Paris, a zona de diversão noturna no centro da cidade de porta aberta.
Diz à Renascença que "quanto mais segurança melhor".
Miguel Aleixo abre as portas do café de manhã bem cedo. Conta que, sobretudo, ao fim de semana, as primeiras luzes do dia tornam visíveis os despojos das noites.
Quando lhe perguntam se alguma vez se sentiu menos seguro, reconhece que a noite "é sempre um problema, eles bebem e brigam", e, por isso acredita no poder dissuasor da videovigilância: "acredito, sim..., mas vamos lá ver se funciona".
Na noite em que a cidade se prepara para fazer direta, a segurança, há muito reclamada na zona da baixa, torna-se mais necessária.
O São João enche as ruas do centro histórico, mas, este ano, as obras do Metro tornam todos os percursos, eventualmente, mais acidentados.
A passagem pelos estaleiros de obras no eixo Clérigos-31 de Janeiro faz-se estreita, por vezes, demorada.
Com mais gente nas ruas, pode haver problemas.
"Aquilo não é nada seguro... os corredores são estreitos e, com tanta gente, se alguém cai, depois passam uns por cima dos outros", alerta Miguel Aleixo.
Mas não é tudo. As obras afetam, também, a circulação automóvel no centro da cidade. A Praça da Liberdade é o epicentro da confusão. Os carros não descem nem dos Clérigos, nem da Rua 31 de Janeiro.
João Sousa é de Paredes. Tem uma empresa que vende produtos hortícolas e fruta que fornece os restaurantes e cafés da Praça Almeida Garrett, de frente para a estação de comboios de São Bento.
Todos os dias, entra de furgão na encruzilhada do tráfego da cidade.
"Para chegar aqui, temos de dar uma volta bastante maior... e também temos clientes na zona do Carmo, ao lado da Praça dos Leões... a volta aí é muito maior", explica, enquanto vai fazendo anotações sobre os clientes por onde ainda terá de passar.
A corrida é contra o tempo. Todos os dias. "E torna-se muito mais complicada da parte da tarde".
João conta que "já anda nisto há muitos anos" e que já está habituado ao stress de ter de conduzir no centro de uma cidade transformado num estaleiro de obras.
Mas reconhece: "nestas condições, é muito mais difícil trabalhar".