Ramalho Eanes critica resposta mundial "desarticulada e contraditória" à Covid-19
11-09-2020 - 18:16
 • Henrique Cunha

Antigo Presidente da República diz ter tirado 10 lições da pandemia.

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O antigo Presidente da República Ramalho Eanes critica a forma como tem sido enfrentada, a nível internacional, a pandemia e considera que a falta de concertação de meios no combate à Covid-19 potenciou o elevado número de mortes entre "os profissionais de risco".

"A resposta à crise foi, a nível mundial, desarticulada e contraditória", afirmou Ramalho Eanes no encerramento do primeiro fórum da revista portuguesa de cardiologia.

Nesta intervenção, o antigo Chefe de Estado discorreu sobre a possibilidade de se conhecer o imprevisível, afirmando que é "possível prever a sua eventualidade e estabelecer estratégias de resposta".

Ramalho Eanes , 85 anos, sublinha que "não podemos dizer que a Covid-19 nos surpreendeu", pois a comunidade científica "deixou avisos repetidos para a possibilidade do aparecimento de um novo vírus".

De seguida, o general assegurou que "na crise da Covid-19 não se desenhou nem se desenvolveu uma resposta estratégica adequada". Ramalho Eanes diz mesmo que faltou articulação entre serviços e instituições.

Ramalho Eanes revelou ainda ter tirado 10 lições da pandemia, uma delas aponta para "uma mudança do paradigma atual dos serviços nacionais de saúde" que no contexto atual levou os "SNS a sacrificar a prevenção e a precaução a critérios perversos de rentabilidade e competitividade".

Depois, Ramalho Eanes afirma que "a pandemia acentuou as desigualdades" que, em seu entender, " têm dado fogo à Covid-19". Nas palavras do antigo Presidente a “pandemia acentuou as desigualdades, mostrou-nos a vulnerabilidade dos sem abrigo, dos pobres, dos que tem ocupações precárias, dos desempregados, e de todos os que não podem sem apoio externo confinar”.

Por outro lado, acrescentou, a Covid-19 também nos expôs a frágil situação dos idosos, “os mais velhos que, não raro, são arrumados em lares quantas vezes ilegais”.

Já a concluir, Ramalho Eanes reforçou a ideia de que se não é possível conhecer o imprevisível "pode-se e deve-se prever a sua eventualidade".

Para o antigo Presidente "reduzir toda a política à economia e toda a economia à doutrina da livre concorrência como solução de todos os problemas sociais é criar condições para uma provável tempestade global".