A vitória de Salvador Sobral vista pela imprensa internacional
14-05-2017 - 18:34
 • Inês Rocha

O Financial Times sublinha o “clima de euforia” que se vive em Portugal depois de uma década de recessão. Da “sensibilidade demolidora” ao “golpe de modéstia”, a imprensa internacional desdobra-se em elogios a Salvador Sobral.

A vitória de Salvador Sobral no Festival Eurovisão da Canção, este sábado, em Kiev, foi notícia em muitas publicações mundiais de referência.

O espanhol El Mundo afirma que o cantor português cantou “Amar pelos Dois” com uma “sensibilidade demolidora”, sem mais coreografia que "os seus próprios gestos de sensibilidade e paz".

“Os portugueses foram a cara de uma Península Ibérica onde a cruz foi Espanha”, escrevem os espanhóis, depois da derrota de Manel Navarro, que ficou em último na tabela de classificação, com apenas cinco ponto.

“O luso cativou com um esbanjamento de simplicidade, vestido de preto, sem mais elementos que o microfone, com um ar apaixonado, insensível ao frio ou ao aguaceiro que o rodeia. A etiqueta de Sobral era o seu próprio desleixo, enternecedor nos ensaios e surpreendente entre as luzes na final”, escreve o El Mundo.

O New York Times lembra que Salvador quebrou a tradição perdedora de Portugal na Eurovisão com uma balada melancólica.

“Esteve muito longe das outras performances, que incluíram homens de tronco nu a “chapinhar” numa piscina, um performer com cabeça de cavalo sentado no topo de uma escada; outro a cavalgar um canhão em tamanho real; e vários exemplos de fogos-de-artifício”, escreve o jornal norte-americano.

O Financial Times encontrou três “F’s” na língua inglesa para descrever este sábado português: “Faith, football and first win” (fé, futebol e primeira vitória na Eurovisão).

A vitória, escreve o jornal norte-americano, “elevou os espíritos para um nível de que o país raramente desfrutou, numa década marcada pela recessão profunda e por um resgate internacional punidor”.

O jornal económico recorda ainda a canonização dos pastorinhos em Fátima, pelo Papa Francisco, e a vitória do Benfica no campeonato de futebol. E sublinha: “o clima de euforia marca o ponto mais alto até agora nos esforços de António Costa para construir uma perspectiva mais optimista de um país atingido pelo desemprego recorde, pela forte emigração e o aumento da pobreza, na esteira da crise da dívida soberana da zona euro”.

O El País não vai tão longe, dizendo que “parece óbvio que uma vitória na Eurovisão não cura as profundas feridas de uma crise”, mas chega a Portugal para escapar por uns dias ao hábito de “só aparecer no pelotão das más notícias”.

O jornal espanhol escreveu que Salvador venceu com um “golpe de modéstia”, uma composição simples e com vocação para ser apreciada por todos os públicos. A publicação compara ainda o estilo de “Amar pelos Dois” às interpretações de Chet Baker, que Salvador Sobral tanto admira, e do brasileiro João Gilberto.

O The Guardian considera que aconteceram “muitas coisas surpreendentes” na final da Eurovisão. “Uma canção decente venceu”, escreve o jornal inglês. E cita o comentador britânico do Festival Eurovisão da Canção, Graham Norton, que descreve a canção portuguesa como “um rapaz no seu quarto a cantar uma canção escrita pela sua irmã”.

Escreve ainda a publicação britânica: “Foi imensamente surpreendente, e lembra-nos que o português é, possivelmente, a língua mais bonita para cantar boas e suaves canções.

O The Sun, outro jornal inglês, é mais dramático: “Salvador Sobral deixou Kiev em chamas”, com a primeira vitória para Portugal em 53 anos.