​Trump, Bolsonaro e os militares
03-01-2019 - 06:27

Rodeado apenas por familiares e extremistas, Trump deixou de enfrentar reservas dos seus colaboradores.

Tal como nos Estados Unidos, o presidente Bolsonaro, no Brasil, é chefe do governo. O novo executivo brasileiro conta com nada menos de oito militares de alta patente, agora na reserva. Qual será o seu papel, só o futuro o dirá. Não parece que as forças armadas brasileiras aspirem a nova ditadura militar. Julga-se que o nacionalismo dos generais no governo de Bolsonaro irá travar a fúria privatizadora do ultra liberal ministro da Economia, Paulo Guedes.

Seria útil que Bolsonaro reparasse no que se passou com os generais que rodeavam o seu ídolo e mentor, Trump. Perante a irresponsabilidade e a ligeireza do presidente americano, havia a esperança de que a influência desses militares prestigiados levasse a um pouco mais de racionalidade e ponderação do chefe da Casa Branca.

Só que tal não aconteceu. Por isso os militares foram saindo do executivo de Trump, até não restar ali algum. O chefe de gabinete, general John Kelly, abandona a Casa Branca dentro de dias, depois de meses de uma penosa relação com Trump.

A decisão presidencial, contra o conselho de muitos dos seus colaboradores militares, de repatriar os dois mil soldados americanos estacionados na Síria levou a uma forte onda de indignação dentro e fora dos EUA. O secretário da Defesa, general James Mattis, demitiu-se e divulgou uma carta explicando os motivos dessa demissão e revelando profundas divergências quando ao estilo de tomada de decisões do presidente. O que deixou Trump furioso, tornando imediata a saída de Mattis.

Mas as explicações do ex-secretário da Defesa levaram muita gente, nomeadamente no partido republicano, a dar-se conta dos perigos para os EUA e para o mundo de terem na Casa Branca um presidente com um tão acentuado narcisismo infantil.

Agora, Trump está como gosta. Rodeado apenas por familiares e por extremistas, faz o que quer, sem objeções ou reservas por parte dos seus colaboradores. Veremos se a maioria dos democratas na Câmara dos Representantes conseguirá compensar esta falta de travões internos aos caprichos presidenciais.