Cada vez mais jovens sofrem de eco-ansiedade. “Pode ser hoje, amanhã, acontecer um desastre natural”
02-03-2022 - 18:00
 • Cristina Nascimento , João Campelo (sonorização)

Estudo europeu indica que 81% dos jovens portugueses consideram o futuro assustador quando pensam nos desafios das alterações climáticas. O valor é superior à média europeia.

Há cada vez mais jovens a sofrer de eco-ansiedade, a ansiedade provocada pela incerteza e as perspetivas de futuro condicionadas pelos problemas ambientais. É o que diz à Renascença o psicólogo Tiago Pereira, depois dos relatos que chegam à Ordem dos Psicólogos e aos consultórios destes profissionais de saúde.

Portugal está, aliás, acima da média europeia neste indicador. Um estudo recente indica que 81% dos jovens portugueses consideram o futuro assustador quando pensam nos desafios das alterações climáticas.

Tiago Pereira explica que esse fenómeno justifica-se pelo facto de Portugal já estar exposto a estas consequências, nomeadamente com as questões da seca e dos incêndios florestais.

Marta Baptista é uma jovem de 14 anos que se identifica como sendo muito preocupada com o assunto. “As pessoas estão sempre a dizer que é um futuro muito próximo e eu não consigo desvendar se pode ser hoje, pode ser amanhã que pode acontecer um desastre natural devido à poluição ou às alterações climáticas”, diz.

Esta jovem de Lisboa foi desde nova sensibilizada para esta questão, quer em casa, quer na escola. A sua educadora de infância Sofia Henriques tem 25 anos de experiência. Trabalho com meninos a partir de um ano de idade e, seja qual for a idade, aborda sempre estes assuntos.

“Quanto mais cedo, melhor”, diz, sem hesitação. “Educo para a autonomia deles para tudo, para a linguagem e, de alguma forma, para esta questão do ambiente também”, justifica, referindo ainda que ensinar sobre questões ambientais é também uma forma de ensinar outras coisas.

“Ensinar a pôr o papel no ecoponto azul os restos do papel, ajuda a ensinar as cores”, exemplifica.

Questionado sobre se há vantagem em começar esta aprendizagem tão cedo, Tiago Pereira concorda que é benéfico, embora reconheça que possa ter efeitos penalizadores como a eco-ansiedade.

No entanto, este especialista considera que os pais podem ajudar a evitar esses estados de espírito mais extremos.

“Podemos, enquanto pais, procurar lembrar que muitas vezes tendemos, relativamente a situações que desconhecemos e que são incertas para nós, a sobrevalorizar as suas consequências”, diz, acrescentado que também é possível dar uma noção positiva.

“A crise climática e as suas consequências não é por si uma inevitabilidade, ou seja, há tempo para mudar. O tempo é cada vez menor, mas há tempo para a mudança”, reforça.