“A seguir ao medo, vem o cansaço”. Como combater a fadiga pandémica que já atinge 60% da população?
03-11-2020 - 08:40
 • Sofia Freitas Moreira

A Ordem dos Psicólogos alerta para "estimativas que preveem que entre 20% a 30% das pessoas sofram com o impacto psicológico da pandemia". Saiba o que pode fazer para combater a "fadiga pandémica" e não baixar a guarda, numa altura em que as taxas de infeção por Covid-19 estão em crescimento.

A “fadiga pandémica” já atinge cerca de 60% da população mundial, alerta um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS). O fenómeno “é natural”, explica a Ordem dos Psicólogos Portugueses que divulgou, esta semana, um esclarecimento sobre o cansaço da pandemia, indicando formas de o combater.

O organismo começa por estabelecer que há “um sentimento de sobrecarga, por nos mantermos constantemente vigilantes, e de cansaço, por obedecermos a restrições e alterações na nossa vida”.

“A seguir ao medo, vem o cansaço”

O cansaço “pode provocar indiferença”, porque “a nossa perceção de risco relacionada com a Covid-19 pode diminuir”. A ordem explica que “não é fácil perspetivar o futuro e lidar com as alterações frequentes das orientações das autoridades de saúde, à medida que também evolui o número de casos e as dinâmicas da pandemia”.

O desemprego, a perda de rendimentos ou a deterioração das condições de vida são alguns dos exemplos que o organismo aponta como efeitos colaterais da pandemia “igualmente devastadores”.

A crise pandémica e sócio-económica gera insegurança, medo e ansiedade acerca do presente e do futuro, podendo agravar ou conduzir a dificuldades e problemas de saúde psicológica - como a depressão, a ansiedade ou o stress -, indica a ordem.

“Há estimativas que preveem que entre 20% a 30% das pessoas sofram com o impacto psicológico da pandemia”, alerta.

“Aceite e persista, não desista”

De acordo com a Ordem dos Psicólogos, "apesar do cansaço, é preciso redobrar esforços para combater o vírus” e não "podemos baixar a guarda".

"Os nossos comportamentos são críticos para conter a sua propagação e para nos protegermos a nós e protegermos os outros". Contudo, é importante continuarmos a fazer a nossa vida, procurando "atividades que aumentem o nosso bem-estar e, simultaneamente, minimizar o risco em todas as situações em que nos encontremos".

A Ordem deixa ainda quatro dicas para combater a “fadiga pandémica”:


1. Comprometa-se. Usar máscara, lavar as mãos e manter o distanciamento físico é como parar no sinal vermelho ou usar o cinto de segurança. Mantenha-se seguro a si e aos outros.

2. Repita. Há comportamentos que temos de repetir até se tornarem um hábito e os fazermos sem esforço.

3. Tenha sempre à mão. É mais fácil não nos esquecermos se tivermos sempre desinfectante à mão, assim como uma máscara (na mala, no carro, na entrada de casa).

4. Aceite e persista, não desista. A pandemia ainda está para durar, mas adaptar a nossa vida ao novo coronavírus é possível (e necessário). Há poucos anos era comum a oferta de um número elevado de sacos de plástico descartáveis nos supermercados. Hoje tal não sucede e adaptamo-nos a essa nova realidade, ajustando o nosso comportamento.

Na segunda-feira, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, pediu aos portugueses para não baixarem a guarda, reforçando que "a fadiga pandémica é natural e esperada".

"Não podemos facilitar e dar passos que nos desprotegermos. Temos que fazer tudo para não adoecer, e sobretudo, para não sermos propagadores da doença", afirmou a diretora-geral da Saúde no dia em que Portugal atingiu o maior número diários de mortes por Covid-19 (46), desde o início da pandemia.